EUA

Jovens americanos se mobilizam a favor do desarmamento

Mobilização dos jovens é reação ao massacre de 14 de fevereiro em uma escola na Flórida
AFP
Publicado em 23/03/2018 às 22:40
Mobilização dos jovens é reação ao massacre de 14 de fevereiro em uma escola na Flórida Foto: Foto: AFP


Jovens e estudantes ocuparão neste sábado (24) as ruas de centenas de cidades dos Estados Unidos para uma mobilização nacional contra as armas de fogo e esperam reunir meio milhão de manifestantes na capital, Washington.

A "Marcha por nossas vidas" é uma reação ao massacre de 14 de fevereiro em uma escola na Flórida, em que um jovem com uma arma semiautomática provocou a morte de 14 estudantes e três adultos.

Este massacre, apenas o último capítulo de um drama que periodicamente se repete no país, gerou uma intensa onda de consternação e os próprios estudantes tomaram a frente dos protestos.

Mas o movimento que começou alavancado por adolescentes cansados dos banhos de sangue adquiriu força própria e personalidades públicas já se somaram a ele.

O ator George Clooney e sua esposa, Amal, doaram meio milhão de dólares para o movimento. Oprah Winfrey e Steven Spielberg também declararam seu apoio, e o ator Bill Murray comparou as marchas de sábado aos protestos contra a guerra do Vietnã na década de 1960.

Para a concentração na Contitution Avenue, em Washington, figuras populares entre os jovens americanos como os músicos Ariana Grande, Jennifer Hudson, Demi Lovato, Justin Timberlake e Miley Cyrus já confirmaram presença.

Mas as maiores estrelas do protesto são os adolescentes que sobreviveram ao ataque no colégio de Parkland, na Flórida, e que lançaram o grito inaugural do movimento juvenil contra as armas de fogo.

"Estas manifestações não teriam acontecido sem o massacre em minha escola. Por isso, será um momento difícil", disse à AFP o estudante Carlos Rodríguez, que escapou ileso do massacre na Flórida.

"Me sinto orgulhoso de ser um dos estudantes que começou com este movimento", acrescentou.

O lema: "agir"

Aalayah Eastmond já está em Washington para participar da grande manifestação e prestar homenagem a seus companheiros de escola que não sobreviveram.

"Perdi dois amigos da minha turma e outros seis foram feridos", disse a jovem de 17 anos. "É necessário agir. Isso não pode acontecer de novo. Se passaram 36 dias e não foi feito nada. Vamos lutar para que isso mude", afirmou.

A revolta dos jovens tem um alvo preciso: a incapacidade dos poderes executivo e legislativo de agir em relação ao acesso às armas, que muitos americanos consideram um direito fundamental.

O dilema não é novo. Alcançou o que parecia um ponto de mudança depois da morte de 20 crianças em uma escola em Sandy Hook, em 2012, mas o governo não conseguiu vencer a indústria de armas e a Associação Nacional de Rifles (NRA, em inglês). 

O ex-presidente Barack Obama chegou a reconhecer a derrota diante do multimilionário lobby da NRA, e agora, mesmo depois de ter deixado a Casa Branca, expressou seu apoio à manifestação estudantil.

De acordo com o site do comitê organizador, no sábado acontecerão 830 "marchas irmãs", simultâneas às de Washington, em diversas cidades do país onde as armas de fogo deixam mais de 30.000 mortos a cada ano.

Nesta sexta-feira, o governo de Donald Trump propôs formalmente a proibição completa dos mortais "bump stocks", dispositivos que permitem que armas semiautomáticas disparem rajadas. 

A medida proposta pelo Departamento de Justiça ordena a entrega ou destruição de mais de meio milhão destes dispositivos que se estima foram vendidos na última década.

Vários "bump stocks" foram empregados pelo atirador que massacrou a multidão que assistia a um show em Las Vegas no último 1º de outubro, deixando 58 mortos e mais de 850 feridos.

Testemunhas diretas

A geração que sairá às ruas no fim de semana geralmente é identificada como "geração Columbine", em referência ao ataque em uma escola no Colorado em 1999, aonde dois estudantes mataram a tiros 12 alunos e um professor.

Essa geração passou quase a totalidade de sua vida escolar sob o medo de que suas escolas fossem cenário do mais recente assassinato em massa.

Todos os estudantes americanos se habituaram aos exercícios de emergência em suas escolas para casos de tiroteios e ataques com armas de fogo.

Segundo o jornal Washington Post, desde o massacre de Columbine em 1999 mais de 187.000 estudantes americanos foram testemunhas diretas de ataques em massa e tiroteios nas escolas do país.

Na capital Washington, os jovens pretendem ocupar todo o espaço que vai desde a Casa Branca até o Capitólio, sede do Congresso.

O comitê organizador preparou uma grande rede de voluntários que oferecem alojamento para os jovens que chegam de outras cidades do país.

O sistema de trens subterrâneos funcionará com um serviço reforçado e foram instalados no centro da cidade mais de 2.000 banheiros químicos e telões de vídeo.

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