Israel pretende atingir "organizações terroristas" em Gaza se a violência ao longo da fronteira com a Palestina continuar, alertou o porta-voz das forças militares do país neste sábado (31), um dia após milhares de palestinos marcharem em protesto próximo a cerca da fronteira.
Os protestos liderados pelo Hamas, grupo islâmico que governa Gaza, representaram apenas o início de uma campanha de seis semanas de protestos diários, chamada de "marcha do retorno". Segundo fontes do Ministério da Saúde da Palestina, 15 palestinos foram mortos por disparos em confronto com tropas israelenses e mais de 750 ficaram feridos, no dia mais sangrento já vivido na região desde a guerra de 2014 entre Israel e o Hamas.
Nos confrontos ocorridos na sexta-feira (30), uma multidão se reuniu na fronteira entre Gaza e Israel, com pequenos grupos de manifestantes tentando atingir tropas israelenses jogando pedras e pneus queimados. As tropas de Israel responderam com tiros, enquanto drones jogavam gás lacrimogêneo sobre a multidão. O exército divulgou um vídeo mostrando soldados com rifles instalados em pontos mais altos do terreno com vista para o local.
Ronen Manelis, porta-voz das forças de defesa de Israel, negou as acusações de uso excessivo da força, dizendo que os mortos no recente confronto são homens entre 18 e 30 anos que estavam envolvidos em atos violentos e pertenciam a facções. Ele alega também que as fontes oficiais de Gaza exageraram no número de feridos no conflito, e que muitos foram apenas abalados pelos efeitos do gás lacrimogêneo e outros métodos de dispersão de multidões.
O Hospital de Shifa, em Gaza, recebeu 284 feridos na sexta-feira, a maioria com ferimentos de bala, afirmou o porta-voz Ayman Sahbani. Segundo ele, 70 tinham idade abaixo de 18 anos e 11 eram mulheres, acrescentando que 40 cirurgias foram realizadas na sexta-feira e 50 estão previstas para este sábado.
Nesta manhã centenas de manifestantes se reuniram em cinco acampamentos instalados ao longo da fronteira. Esses locais serão utilizados como pontos de partida para as marchas. Os organizadores do protesto têm dito que as marchas irão continuar até 15 de maio, 70º aniversário da criação de Israel. Os palestinos consideram a data de "nakba", ou catástrofe, quando milhares foram desalojados de suas casas durante a guerra de 1948 para a criação de Israel. A maioria das 2 milhões de pessoas que vivem em Gaza são descendentes de palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas casas na região que hoje é Israel.
Manelis reiterou neste sábado que Israel "não permitirá uma violação em massa da cerca em território israelense". Ele disse que o Hamas e outros grupos militantes de Gaza estão usando os protestos para encobrir ataques. Se a violência continuar, "não seremos capazes de continuar a limitar nossa atividade a área próxima a cerca e vamos agir contra essas organizações terroristas em outros lugares também".
Os protestos na fronteira são vistos com uma nova tentativa do Hamas para derrubar o bloqueio fronteiriço, imposto por Israel e pelo Egito depois que o grupo militante islâmico tomou Gaza das forças leais ao seu rival, o presidente palestino Mahmoud Abbas, em 2007. A continuidade desse bloqueio torna cada vez mais difícil para o Hamas governar.
Na Organização das Nações Unidas, o secretário-geral Antonio Guterres pediu por uma "investigação independente", enquanto membros do Conselho de Segurança clamaram por moderação de ambos os lados. O conselho ainda não decidiu sobre qualquer ação ou mensagem conjunta depois da reunião de emergência realizada na sexta-feira. Fonte: Associated Press.