Esquerdista López Obrador conquista presidência do México

Andrés Manuel López Obrador foi eleito com mais de 40% dos votos, segundo projeções dos institutos de pesquisas baseadas na boca de urna
AFP
Publicado em 01/07/2018 às 22:42
Andrés Manuel López Obrador foi eleito com mais de 40% dos votos, segundo projeções dos institutos de pesquisas baseadas na boca de urna Foto: Foto: ULISES RUIZ / AFP


Andrés Manuel López Obrador, candidato da coalizão de esquerda Movimento Regeneração Nacional (Morena), foi eleito neste domingo para a presidência do México com mais de 40% dos votos, segundo projeções dos institutos de pesquisas baseadas na boca de urna.

O instituto Consulta Mitofsky atribui a López Obrador entre 43% e 49% dos votos, o jornal El Financiero, 49%, e o Gabinete de Comunicação Estratégica, 43,2%, o que representa mais de 20 pontos de vantagem sobre Ricardo Anaya, da coalizão conservadora apoiada por parte da esquerda, e de José Antonio Medade, do governista Partido Revolucionário Institucional (PRI).

Meade e Anaya já reconheceram a vitória do candidato da esquerda.

"Andrés Manuel López Obrador foi quem obteve a maioria (...). Pelo bem do México, desejo que ele tenha o maior sucesso", disse o candidato do PRI em seu QG de campanha.

"A informação de que disponho revela que a tendência favorece Andrés Manuel López Obrador. Falei com ele há alguns minutos (por telefone) para reconhecer sua vitória e desejar o maior sucesso pelo bem do México", declarou Anaya.

A coalizão liderada por López Obrador também venceu em cinco dos nove Estados em disputa na eleição deste domingo, marcada pela violência.

Segundo projeções do Mitofsky divulgadas pela rede Televisa, Morena conquistou os governos de Cidade do México, Veracruz (leste), Morelos (centro), Chiapas e Tabasco (sul).

Na Cidade do México, a candidata do Morena Claudia Sheinbaum tornou-se a primeira mulher eleita para comandar a capital.

De acordo com o Mitofsky, Sheinbaum obteve entre 45,5% e 55,5% dos votos, rompendo com 21 anos de domínio do Partido da Revolução Democrática (PRD) na Cidade do México.

Alejandra Barrales, do PRD e integrante da coalizão do conservador Partido Ação Nacional (PAN), obteve entre 27% e 33% dos votos, à frente de Mikel Arreola, do governista Partido Revolucionário Institucional, com 10,1% e 16,1%.

O Morena também deve assumir os governos de Veracruz, com Cuitláhuac García (46,9% a 54,1%); Morelos, com o ex-jogador Cuauhtémoc Blanco (47,7% a 55,7%); Chiapas, com Rutilio Escandón (43,7% a 51,7%); e Tabasco, com Adán Augusto López (61,7% a 69,7%), segundo o Instituto Mitofsky. 

O conservador PAN manteria o Estado de Guanajuato, com Diego Sinhué Rodríguez (40,6% a 48,6%), e a situação em Yucatán, Puebla e Jalisco permanece indefinida.

"Este é um dia histórico. O povo do México vai decidir livremente sobre quem deve encabeçar o governo nos próximos seis anos", afirmou López Obrador antes de votar.

"Nós pensamos que as pessoas vão dar o seu apoio (...). Vamos conseguir esta transformação sem violência, de maneira pacífica. Será uma mudança ordenada e ao mesmo tempo profunda porque vamos expulsar do país a corrupção", completou, ao lado da esposa e dos filhos em um colégio eleitoral na zona sul da Cidade do México.

Em sua terceira tentativa consecutiva de chegar à presidência, AMLO, como é conhecido pelos mexicanos, se apresentou como o candidato antissistema.

Além da eleição para presidente, quase 89 milhões de mexicanos estavam registrados para escolher governadores, prefeitos e deputados locais e federais, entre os mais de 18.000 cargos em disputa.

A hora da esquerda

López Obrador, 64 anos, conseguiu capitalizar o cansaço da população após seis anos de governo de Enrique Peña Nieto, um mandato marcado pela corrupção e por denúncias de violações dos direitos humanos.

"O sistema de partidos estabelecido foi sacudido pelo avanço do Morena" (Movimento de Regeneração Nacional), afirmou Duncan Wood, diretor do Instituto México no Wilson Center.

As eleições foram ofuscadas pela campanha eleitoral mais violenta da história recente do México, com pelo menos 145 políticos assassinados desde setembro (48 eram pré-candidatos, ou candidatos).

Um número significativamente maior do que o registrado em 2012, quando nove políticos e um candidato foram assassinados.

Na manhã deste domingo, uma militante do Partido do Trabalho (PT) foi assassinada no estado de Michoacán, antes da abertura das seções eleitorais.

Flora Resendiz González "faleceu quando era atendida em um hospital do município de Maravatío, após ser baleada por volta das 6h30 local, quando estava em casa", informou a Procuradoria de Michoacán, oeste do México.

"Aparentemente, homens armados já a estavam esperando do lado de fora de casa", disse uma fonte à AFP, pedindo para não ser identificada.

Mais tarde, um membro do governista PRI foi assassinado no estado de Puebla.

"Lamentamos a morte de Fernando Herrera Silva, militante do PRI, por episódios violentos na localidade de Acolihuia, (no município de) Chignahuapan", declarou o partido no Twitter.

"Exigimos do estado de Puebla que garanta a segurança nesse processo eleitoral", acrescentou.

A disputa eleitoral contou com observadores da Organização de Estados Americanos provenientes de 23 países e a vigilância de policiais e militares em todo país. 

"Um governo sem luxos ou privilégios"

O combate à violência e à corrupção, que ele relaciona com "a máfia do poder", é a prioridade dentro das muitas reformas prometidas por AMLO.

Em seu projeto para 2018-2024 também estão o apoio ao campo, a revisão dos contratos milionários da reforma energética, um governo "austero, sem luxos ou privilégios" e a redução dos salários dos altos funcionários públicos em até 50%. Tudo para estimular programas sociais e reduzir a pobreza.

O problema é que muitos mexicanos e analistas criticam a falta de propostas concretas e o que chamam de retórica "populista".

Uma das maiores dúvidas diz respeito a sua relação com o presidente Donald Trump e, sobretudo, como dois modelos tão antagônicos conviverão dos dois lados do Rio Bravo, em temas vitais como a migração e as negociações de um renovado Tratado de Livre-Comércio.

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