A princesa Ubolratana, irmã do rei da Tailândia, provocou um terremoto político ao anunciar, nesta sexta-feira (8), que será candidata a primeira-ministra nas eleições de março, nas quais terá como rival o comandante da junta militar que governa o país.
A inesperada candidatura da princesa abre um novo cenário político na Tailândia, um país até agora controlado com mão de ferro pelos militares.
O palácio real condenou a iniciativa. Em um comunicado transmitido pela televisão, a realiza recorda que "a rainha, o herdeiro e os membros da família real devem estar acima da política e não devem ocupar função política, já que isso estaria em contradição com a Constituição".
Pouco antes, Ubolratana Rajakanya, de 67 anos, escreveu no Instagram: "Abandonei meu título de nobreza e vivo como plebeia (...) como uma cidadã normal em respeito à Constituição".
Ela assegura agir com "sinceridade" e estar "determinada a se sacrificar para conduzir a Tailândia no caminho da prosperidade".
A princesa disputará o cargo de primeira-ministra no governo civil que será formado após as eleições legislativas de 24 de março, por um partido próximo ao clã Shinawatra, grande inimigo da junta militar.
A princesa "é nossa candidata ao posto de primeira-ministra" nas eleições, as primeiras desde o golpe de Estado de 2014, anunciou Preechaphol Pongpanich, dirigente do partido Thai Raksa Chart.
Este partido é tutelado por Thaksin Shinawatra, bilionário e ex-premier no exílio, odiado pelo Exército, mas muito popular entre a população de baixa renda.
Shinawatra, um reformista, sempre foi visto pela velha Guarda Real e pelos militares como uma ameaça à monarquia. A situação motivou dois golpes de Estado militares contra seus governos, em 2006 e 2014.
Desde o último golpe militar, liderado por generais próximos ao rei Bhumibol Adulyadej, o monarca faleceu e foi substituído por seu filho Maha Vajiralongkorn.
A candidatura da irmã do rei - que segundo os analistas consultados não poderia ter sido decidida sem a aprovação do palácio - é, portanto, um sinal de ruptura sem precedentes com a velha guarda da época Bhumibol.
Nenhum membro da família real disputou o cargo de chefe de Governo desde que a Tailândia se tornou uma monarquia constitucional em 1932.
Após o anúncio da princesa, o comandante da junta que governa o país, Prayut Chan-O-Cha, também anunciou que disputará o cargo, em uma tentativa dos militares de manter sua influência quatro anos após o golpe.
"Decidi aceitar o convite do Phalang Pracharat de apresentar meu nome ao Parlamento para ser nomeado primeiro-ministro", disse Prayut, em referência ao partido pró-militar fundado em 2018.
Prayut Chan-o-Cha e a princesa Ubolratana serão adversários nas eleições, as primeiras no país desde 2011 e que prometem uma grande disputa.
Ele lidera a junta militar há quase cinco anos. O regime aprovou uma nova Constituição para redefinir o panorama político e garantir que os militares controlem o poder após as eleições.
Sob o comando de Prayut, os militares se apresentaram como os protetores da monarquia. A entrada da princesa Ubolratana no cenário político, ainda mais pelas mãos do grande inimigo da junta, questiona este argumento.
"É algo inédito. Se (a princesa) virar primeira-ministra, o povo poderá tratá-la como simples plebeia? Quem se atreveria a criticar uma primeira-ministra da realeza?", questiona Puangthong Pawakapan, professora de Ciência Política na Universidade Chulalongkorn, de Bangcoc.
De fato, a família real na Tailândia é protegida por uma lei draconiana para impedir qualquer crime de lesa-majestade. Legalmente, as irmãs do rei não são cobertas por esta lei, mas ninguém se atreve a criticá-las por medo de uma pena de prisão de vários anos.
Ubolratana, uma personalidade extrovertida que contrasta com a do irmão, o rei Maha Vajiralongkorn, mais discreto, renunciou a seus títulos reais ao casar com um americano há algumas décadas.
Após o divórcio do casal, no entanto, ela retornou à Tailândia e ainda é considerada parte da família real.
Excelente atleta, além de atriz e cantora esporádica, a princesa havia demonstrado até agora pouco interesse pelo mundo político, dedicando boa parte do seu tempo à divulgação do cinema tailandês em festivais ao redor do mundo.