O vandalismo, no sábado (16), na avenida Champs-Élysées, durante uma manifestação dos "coletes amarelos", provocou indignação, neste domingo (17), na França, onde o governo foi criticado por um esquema de segurança considerado insuficiente.
Após um declínio da mobilização nas últimas semanas, no 18º dia de ação dos "coletes amarelos", que lideram um movimento de contestação desde meados de novembro, foi marcado pela violência em Paris, principalmente da parte de pessoas mascaradas vestidas de preto.
"Espero explicações" do Executivo, declarou a prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, "muito irritada depois desta violência sem precedentes".
"Meu sentimento é que deveríamos ser capazes de controlar uma situação como a que acabamos de viver", disse ela em entrevista ao jornal Le Parisien. "Estamos em meio a uma grande crise política e social. Essas fraturas não podem durar. Não podemos continuar assim!"
Uma reunião com o primeiro-ministro Edouard Philippe está prevista para este domingo às 16h30 GMT (13h30 de Brasília) sobre as "decisões fortes" prometidas no dia anterior pelo presidente Emmanuel Macron.
A Procuradoria de Paris informou a detenção de 200 pessoas, incluindo 15 menores.
Na turística avenida de Champs-Élysées, lojas e restaurantes foram saqueadas e incendiadas durante este dia que foi anunciado como um "ultimato" ao chefe de Estado, considerado pelos "coletes amarelos" como "o presidente dos ricos".
De acordo com os comerciantes, 80 estabelecimentos foram afetados, dos quais vinte saqueados ou incendiados.
"Em Paris, os capuzes pretos substituiram os #GiletsJaunes. Os 'black blocs' destroem, queimam, impunemente", tuitou a presidente do partido de extrema direita União Nacional (ex-Frente Nacional), Marine Le Pen.
A direita critica Macron de não ter adotado rapidamente a chamada lei 'anti-vândalos', votada esta semana no Parlamento. Diante do receio quanto a possibilidade de suas disposições infringirem a liberdade de manifestação, parlamentares e o presidente decidiram consultar o Conselho Constitucional.
As redes sociais também apontavam o dedo, com base em fotografias do presidente nas pistas de esqui de La Mongie (sudoeste), para onde havia viajado com sua esposa Brigitte para "recarregar as baterias" após um giro pela África do leste. Um fim de semana finalmente encurtado pelos eventos.
"Paris está em chamas e Macron esquiando para as câmeras!", "é revoltante a inconsciência e falta de respeito com os franceses!", tuitou a eurodeputada do partido Os Republicanos (oposição de direita) Nadine Morano.
O ministro do Interior, Christophe Castaner, também foi alvo de críticas, enquanto circulam há alguns dias imagens suas em uma boate em Paris na noite do 17º dia de mobilização dos "coletes amarelos".
"Há um governo que, obviamente, não faz o seu trabalho", lançou o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, ironizando os anúncios feitos "entre dois copos" do ministro.
A nova onda de violência pressiona o Executivo, mas também marca uma reversão da tendência da opinião pública, agora a favor do fim do movimento.
Este novo protesto coincidiu com o fim do "grande debate" lançado em resposta a esta crise de "coletes amarelos", em que o chefe de Estado investiu muito.
Em toda a França, mais de 10.300 reuniões locais foram organizadas e 1,4 milhões de contribuições foram registradas no site concebido para este fim. O Executivo tem até meados de abril para decidir o que pretende fazer com essas propostas.
Sete em cada dez franceses, no entanto, não esperam milagres e acreditam que o grande debate não sairá da crise que o país atravessa, segundo uma pesquisa recente.