Protestos em quartéis convocados por Guaidó têm baixa adesão

Nas ruas de Caracas, por sua vez, os militares deram uma demonstração do apoio a Maduro
Estadão Conteúdo e AFP
Publicado em 04/05/2019 às 19:02
Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP


O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, convocou para este sábado (04) protestos na frente de quartéis para pressionar pelo apoio dos militares, porém os atos tiveram pouca adesão. O autoproclamado presidente interino Juan Guaidó pede aos militares que cessem seu apoio ao presidente Nicolás Maduro, que pediu prontidão para um eventual ataque dos Estados Unidos. 

O papel crítico dos militares venezuelanos na crise do país foi mostrado neste sábado. Enquanto Guaidó tentava convencê-los a apoiá-lo, a TV estatal mostrava o presidente Nicolás Maduro em um ato com cadetes do Exército. "Lealdade sempre", gritou Maduro para uma multidão de cadetes com uniformes verdes.

Nas ruas de Caracas, por sua vez, os militares deram uma demonstração do apoio a Maduro. Em uma das cenas, um manifestante pró-Guaidó entregou a um policial um bilhete pedindo apoio à queda do presidente. O agente de segurança acabou queimando o documento, deixando as cinzas caírem no chão.

"As forças armadas não serão chantageadas ou compradas", disse um segundo policial que assistia à cena, que ocorreu perto do palácio presidencial. Um manifestante demonstrou sua irritação. "É uma humilhação", disse Benito Rodriguez, que integrava um grupo de cerca de 150 pessoas. Quando os ânimos começaram a ficar acirrados, a líder do protesto, Maria Suarez, pediu calma. "Por favor, muita disciplina", disse. "Eles acham que é uma piada. Eles não nos levam a sério. Eles não estão escutando", queixou-se o manifestante Andrea Palma.

Mobilizações similares foram registradas em outras regiões, segundo a equipe de Guaidó, que não participou das manifestações. Em Barquisimeto (noroeste), a Guarda Nacional dispersou com bombas de gás o avanço de uma manifestação. "Pedimos aos militares que nos ajudem no cessar da usurpação, que se unam ao povo", disse à AFP Dina Alonso, desempregada de 53 anos, depois que mulheres tentaram sem sucesso que recebessem o documento no comando da Guarda, em Caracas. 

RONALDO SCHEMIDT / AFP
Protestos em quartéis convocados por Guaidó têm baixa adesão - RONALDO SCHEMIDT / AFP
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"É agora" 

Em resposta, Maduro reuniu-se com o alto comando e 5.300 soldados em um destacamento do estado de Cojedes (noroeste), onde pediu prontidão para uma intervenção dos Estados Unidos, que não descarta essa possibilidade e no sábado convocou os venezuelanos a depor o líder socialista. Devem "estar prontos e posicionados para defender a pátria com as armas na mão, se algum dia o império norte-americano ousar tocar esta terra", disse Maduro.

Mais tarde, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, dirigiu-se aos venezuelanos em vídeo para afirmar que "o momento da transição é agora" e que seu país se mantém firmemente com eles em sua luta. Washington tenta estrangular financeiramente Maduro para que abandone a Presidência do país com a maior reserva de petróleo do mundo, mergulhado na pior crise de sua história moderna.

O governante venezuelano exigiu, ainda, alerta diante dos "traidores", depois de na terça-feira um reduzido grupo de militares, liderado por Guaidó e seu copartidário Leopoldo López, se sublevou na base aérea de La Carlota, em Caracas. Guaidó não conseguiu que a rebelião provocasse uma ruptura na Força Armada, apesar de que, segundo a Casa Branca, existia um pacto entre a oposição e o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, para romper com Maduro, que supostamente fugiria para Cuba. Maduro negou.

A cúpula reiterou sua lealdade ao líder chavista, após o que 25 militares pediram asilo nas embaixadas de Brasil e Panamá, e López, que tinha sido libertado da prisão domiciliar pelos rebelados, se refugiou na residência do embaixador da Espanha. "Continuamos avançando na Operação Liberdade", postou López no Twitter, ao mencionar uma conversa por telefone com o presidente do Chile, Sebastián Piñera. O opositor assegura manter conversas com oficiais venezuelanos para o "cessar da usurpação".

Cuba, uma saída?

A crise venezuelana foi abordada na sexta-feira pelo presidente americano, Donald Trump, e seu contraparte russo, Vladimir Putin, cujo apoio a Maduro gera tensões com Washington. Trump ratificou seu apoio a Guaidó, enquanto Putin declarou que as tentativas de uma mudança de governo "pela força socavam as perspectivas de uma solução pacífica".

"Não é de se estranhar que uma vez esgotada a estratégia de sanções, com o país destruído, os aliados externos sejam tentados a negociar de forma direta com o setor militar, se este decidir tomar o poder", avaliou o analista Luis Vicente León.

Neste sábado, Cuba, aliada de Maduro, defendeu a necessidade de um diálogo "sem ameaça, nem intervenção estrangeira", depois que o Grupo de Lima, bloco de países que também pressiona pela saída do presidente, acordasse criar pontes para que a ilha ofereça uma solução negociada.

"Racha" 

A situação na Venezuela também foi analisada na sexta-feira com o secretário interino da Defesa, Patrick Shanahan, que disse que os Estados Unidos avaliam opções militares adaptadas às circunstâncias no terreno.

"Uma opção é que Maduro intensifique a repressão, que já é bastante severa", afirma Michael Shifter, do Diálogo Interamericano. Mas adverte que a situação pode sair das mãos de alguns oficiais se negam a executar estas ordens, o que provocaria um racha maior. Uma detenção de Guaidó não parece iminente, diante da advertência americana de que este seria o "último erro da ditadura".

Crise

Os protestos ocorrem quatro dias depois de Guaidó clamar pelo apoio dos militares para tirar Maduro do poder. A Venezuela enfrenta uma crise sem precedentes: há hiperinflação, recuo do Produto Interno Bruto (PIB), debandada de migrantes para os países vizinhos, desabastecimento e acusações de violência por parte das forças do Estado.

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