Deputados antichavistas fogem para embaixadas após perderem imunidade

Três deputados opositores venezuelanos, acusados de rebelião pelo chavismo, buscaram refúgio
Estadão Conteúdo
Publicado em 10/05/2019 às 8:59
Três deputados opositores venezuelanos, acusados de rebelião pelo chavismo, buscaram refúgio Foto: Foto: Juan BARRETO / AFP


Três deputados opositores venezuelanos, acusados de rebelião pelo chavismo, buscaram refúgio em embaixadas estrangeiras um dia depois de terem a imunidade parlamentar cassada pela Assembleia Constituinte, controlada por Nicolás Maduro. Na quarta-feira, Edgar Zambrano, vice-presidente da Assembleia Nacional (AN), de maioria opositora, foi preso pelo serviço de inteligência da Venezuela.

Zambrano era um dos principais parlamentares da oposição e braço direito de Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela. Zambrano é um dos dez deputados contra os quais o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado pelo chavismo, ordenou um julgamento por "traição à pátria e conspiração", por envolvimento na revolta de um grupo de militares, em 30 de abril, sob a liderança de Guaidó. Na terça-feira, dia 7, a Assembleia Constituinte suspendeu a imunidade dos políticos.

O próprio deputado narrou sua prisão no Twitter. Ele escreveu que patrulhas do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) cercaram seu carro diante da sede da Ação Democrática, partido de Zambrano. "Quando nos negamos a sair do carro, utilizaram um reboque para nos levar ao Helicoide", revelou Zambrano, em referência à prisão que é sede do Sebin.

Após a suspensão da imunidade, o deputado Richard Blanco buscou refúgio na Embaixada da Argentina em Caracas. "Estou aqui provisoriamente, na residência do embaixador da Argentina", disse Blanco à emissora VPI, após a prisão de Zambrano. "Vim dormir aqui porque minha vida corre perigo."

Blanco, que descartou a possibilidade de pedir asilo na Argentina, foi o segundo parlamentar a se resguardar na residência de um diplomata estrangeiro após ser acusado de crimes de traição à pátria e rebelião civil.

Na quarta-feira, 8, a deputada Mariela Magallanes se refugiou na residência do embaixador da Itália em Caracas. Segundo o chanceler italiano, Enzo Moavero Milanesi, ela receberá "a proteção e a hospitalidade de acordo com as convenções diplomáticas", assinalou Milanesi, em comunicado que condenou as medidas do TSJ venezuelano.

Na noite desta quinta-feira, 9, um terceiro deputado da lista também se refugiou na casa do embaixador italiano em Caracas. "Não vou dar o gosto à narcoditadura para me mostrar como troféu e me usar como refém", escreveu Américo De Grazia, de 59 anos, em sua conta no Twitter. "Ainda estou na luta pela democracia e agradeço as boas-vindas da Itália", disse o deputado do Estado de Bolívar, membro do Partido La Causa R.

Os outros seis deputados que estão na mira da Justiça venezuelana por terem apoiado o movimento de Guaidó são Luis Florido, Henry Ramos Allup, Simón Calzadilla, Freddy Superlano, Sergio Vergara e Juan Andrés Mejía.

Leopoldo López, um dos principais líderes opositores e mentor de Guaidó, também está morando com a família na casa do embaixador da Espanha na Venezuela. Todos dizem temer por suas vidas em razão das acusações de traição feitas pelo chavismo.

Em mensagem publicada no Twitter da Embaixada dos EUA em Caracas, fechada desde a escalada de tensão entre os dois países, Washington exigiu a libertação de Zambrano e descreveu a prisão como "ilegal e indesculpável".

"A detenção arbitrária de Edgar Zambrano pelas forças de segurança opressivas de Maduro é ilegal e imperdoável", escreveu a embaixada. "Se ele não for libertado imediatamente, haverá consequências."

Em nota, os países que integram o Grupo de Lima rechaçaram e qualificaram de ilegítima a decisão da Assembleia Constituinte de retirar a imunidade parlamentar dos deputados por eles trabalharem "na recuperação da institucionalidade democrática da Venezuela".

No escuro

Ativistas ocupam desde abril a Embaixada da Venezuela em Washington. Eles apoiam Nicolás Maduro e impedem a entrada dos enviados de Juan Guaidó. Nesta quinta, a companhia elétrica Pepco cortou a luz do prédio e deixou todo mundo no escuro. (Com agências internacionais).

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