Com o ex-presidente Lula (PT) acumulando derrotas na Justiça e podendo ser impedido de concorrer nas eleições de 2018 pela Lei da Ficha Limpa, o PT enfraqueceu, mas não perdeu sua relevância no xadrez político. Em Pernambuco, tanto o governador Paulo Câmara (PSB) quanto a oposição esperam a definição do PT para fechar suas chapas. Ao JC, políticos pernambucanos falaram sobre a influência de Lula e a importância do PT nas articulações.
“Não há como deixar de considerar que o ex-presidente Lula é um grande eleitor no Estado. Pernambuco tem razões de gratidão em relação a ele, ao papel que ele desempenhou. Mas qualquer que seja o cenário, com a candidatura do PT ou sem a candidatura do PT, estaremos prontos para a luta e muito confiantes no processo todo”, ressal tou o senador Armando Monteiro (PTB).
Enquanto o PT não se define, a vereadora Marília Arraes tenta consolidar sua candidatura ao Palácio do Campo das Princesas e a oposição, vale lembrar, pode se favorecer com isso, pois pode levar a disputa ao segundo turno. Nessa conjuntura, o melhor para os socialistas seria uma aliança logo no primeiro turno. O PSB até já sinaliza com uma das vagas do Senado para Humberto Costa (PT).
Segundo a cientista política Priscila Lapa, o fato de Lula estar preso tem dificultado a tomada de decisão no Estado. “Acredito que Lula faria diferença, ele teria tomado uma decisão, talvez não divulgada, mas de bastidores ele já teria definido. A partir do momento que ele fica impossibilitado, gera a incerteza. O PT ficou muito tempo gravitando em torno dessa liderança e tem essa dificuldade em Pernambuco. Isso mostra como ele é decisivo para mostrar as cartas e dar serenidade para o partido, mas essa falta dele torna a situação nebulosa”, disse.
Para o PSB, o apoio do PT é estratégico para a reeleição de Paulo Câmara pelo forte recall que Lula tem junto ao eleitorado pernambucano e pelo expressivo tempo que a sigla tem no guia eleitoral de TV e rádio. A retirada de uma candidatura petista também ajudaria a resolver a eleição ainda no primeiro turno, na avaliação do governo. Paulo Câmara já fez gestos de aproximação com o partido, como a tentativa de visitar Lula na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR). O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), que enfrentou o PT em 2016, também já classificou a coligação como “natural”.
Para isso, o PSB espera uma sinalização da Direção Nacional do PT em favor da aliança. Em reserva, um socialista não vê um ambiente amistoso de parte da direção estadual da sigla. Para o PSB, o ideal seria essa mensagem ocorrer antes do dia 12, quando o PT marcou uma reunião para decidir a tática eleitoral.
Os socialistas admitem que a prisão de Lula atrapalhou o processo, já que o foco das lideranças nacionais da legenda, como a presidente do partido Gleisi Hoffmann, se voltou para a crise com a Justiça. “Mudou o curso da construção do diálogo. Há dificuldade até de conversar com o próprio Lula para saber qual a opinião dele”, explica um dirigente socialista.
Questionado sobre porque o PT passou a atrair tantos interesses, o presidente da sigla em Pernambuco, Bruno Ribeiro, reconheceu a força política de Lula e apontou um desejo do povo de retomar o País governado por ele. “Os pernambucanos também querem de volta a vida e as oportunidades que foram interrompidas com a ruptura democrática”, disse. Para o cientista político e professor da UFPE Ernani Carvalho, mesmo que todos estejam de olho no potencial de Lula, principalmente no Nordeste, isso tende a diminuir com o ex-presidente fora de cena.
“Toda denúncia de corrupção fragiliza, o PT tem feito um trabalho de desconstrução dos argumentos de culpa em relação a Lula, mas a tendência é que tenha um impacto negativo. O partido avaliava que o País pararia se Lula fosse preso, mas isso não aconteceu. Então a prisão dele pode reverter negativamente em termo de votos e em termos de transferência dos votos”, destacou.