O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, criticou a ausência do adversário Jair Bolsonaro nos tradicionais debates promovidos pelas televisões, e afirmou que isso acontece porque Bolsonaro "é um tolo" e não teria condições de defender uma ideia. Segundo ele, em quase 30 anos de mandato parlamentar Bolsonaro não fez nada para ajudar a população, e não seria agora que iria se destacar com propostas.
Entre os pontos que gostaria de debater está a segurança pública, que para Haddad não é um simples "dar uma arma para cada um", como pretende o adversário. O candidato do PT defendeu a criação de uma segurança pública única federalizada, e lembrou que apesar de dizer que vai tornar o País mais seguro, em 30 anos Bolsonaro não fez nada.
"Ele (Bolsonaro) nunca fez nada pela segurança pública em sete mandatos. Nunca aprovou nada pelo Rio de Janeiro, nunca fez nada pelo Brasil. Ele diz que vai apertar tudo, mas apertar o que?", perguntou. "A minha proposta é de fácil compreensão, quero dobrar o efetivo das forças estaduais para proteger o cidadão como apoio da Polícia Federal. O crime não é mais local, é nacional", afirmou durante sabatina no jornal O Globo.
Outros temas, como a privatização, na avaliação de Haddad, também poderiam ser debatidos, mas afirmou que não está "no radar", apesar de admitir que poderia fazer algumas concessões, como planejava em São Paulo na época em que foi prefeito. "E em São Paulo eu organizei um processo de concessão do Anhembi, mas o Doria quis vender", lembrou.
Perguntado sobre uma possível privatização ou eliminação dos Correios, Haddad observou que apesar da evolução tecnológica que reduziu expressivamente a importância do serviço, em alguns lugares apenas os Correios têm acesso. Ele afirmou que para reduzir a falta de tecnologia nesses lugares pretende lançar um programa semelhante ao "Luz para Todos", que levou energia elétrica para milhares de brasileiros, o "Banda Larga para Todos".
Ele também se disse contra acabar com a reeleição, mas garantir a recondução única, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos.
Às vésperas da votação do segundo turno, Haddad avaliou que fez uma boa campanha e que se perder o pleito não vai ligar para dar parabéns a Bolsonaro, mas espera que o candidato do PSL ligue para se desculpar das ofensas cometidas durante a campanha. Haddad porém, afirmou que ainda não se deu por vencido. "Fiz uma boa luta até aqui e tenho até sábado para reverter o quadro", declarou.
Haddad disse que, ao contrário do ex-adversário Ciro Gomes (PDT), não vai deixar o País se Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de votos, vencer o pleito, mas admitiu, brincando, que também vai chorar.
Na sabatina, Haddad afirmou que mais do que a vitória de Bolsonaro, teme as pessoas que "sairão dos porões" se ele for eleito. "A gente tem medo do que vem com ele, ele próprio é um soldadinho de araque", afirmou a jornalistas. "Eu vou lutar em qualquer circunstância, mesmo sendo ameaçado", completou, afirmando não temer tanto o candidato, mas as pessoas "que vão sair dos porões" junto com o Bolsonaro, que já declarou admirar torturadores.
"Regimes autoritários criam fantasmas para vender uma vacina que não existe, temo muito o que pode acontecer se ele vencer, lamento inclusive por vocês (jornalistas) que vão perder a liberdade de expressão", avaliou.
Haddad informou durante a entrevista que ele e sua família estão sendo ameaçados por apoiadores do candidato do PSL e que condena as táticas usadas para enganar o eleitorado, citando o caso da bíblia que ganhou em um comício em Fortaleza e que posteriormente foi supostamente encontrada por um aliado de Bolsonaro no lixo. "Felizmente o ministro que me deu fez questão de vir até o Rio e me dar outra, mas isso (de jogar no lixo) nunca existiu", esclareceu Haddad.
O candidato também reclamou da divulgação pelo adversário de que seria ateu. "O Bolsonaro disse na TV que eu sou ateu, e ninguém faz nada sobre isso, e quem olha isso não vota no Haddad. E por acaso não sou, sou cristão, sou batizado, escolhi casar na igreja, batizei meus filhos na igreja", afirmou.