O ex-vice-presidente da República José Alencar faleceu no início da tarde desta terça-feira (29), confirmou há pouco o oncologista Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês. Alencar estava internado na Unidade de Terapia Intensiva desde ontem, quando apresentou um quadro de obstrução intestinal com perfuração abdominal e peritonite (infecção na membrana que protege a cavidade abdominal).
Devido a seu estado crítico, os médicos tinham descartado qualquer procedimento cirúrgico e Alencar estava sendo tratado apenas com analgésicos para aliviar a dor. Ele lutava contra um câncer no abdome há mais de 13 anos e havia passado por 17 cirurgias.
O ex-vice-presidente José Alencar permaneceu por mais de 450 dias na interinidade da Presidência da República, superando as marcas dos ex-vice-presidentes Marco Maciel (1995-2002), Delfim Moreira (1918-1919) e Aureliano Chaves (1979-1985), que estiveram no exercício do cargo de presidente por 312, 194 e 181 dias, respectivamente, de acordo com levantamento feito pela Agência Estado, com informações do governo federal.
Alencar substituiu frequentemente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em razão das viagens para fora do Brasil por causa da política externa de sua gestão, que priorizou contatos pessoais do petista com chefes de governo e Estado. Alencar morreu na tarde de hoje, em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês. A causa foi falência múltipla dos órgãos.
O vice que menos tempo passou no exercício da Presidência foi José Maria de Alkmim, que em 1965 permaneceu na função por três horas. Foi o tempo que o titular, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, gastou para inaugurar uma ponte entre o Brasil e o Paraguai. Nem sempre o País teve vice-presidente. Nos regimes "revolucionários" e "ditatoriais" do presidente Getúlio Vargas (1930-1945), por exemplo, a Constituição previa que, na ausência do chefe de Estado, outro era escolhido.
Os vices, quando eram eleitos ou selecionados de forma indireta, sempre estiveram envolvidos em polêmicas e debates políticos acalorados. O primeiro vice da história da República, Floriano Peixoto, foi acusado de tentar conspirar contra o titular, marechal Deodoro da Fonseca. Peixoto foi também o primeiro vice a assumir em definitivo o cargo de presidente, com a renúncia de Fonseca, em 1891. Depois dele, outros vices chegaram à chefia do Executivo - Nilo Peçanha, João Goulart, José Sarney e Itamar Franco. Por questões políticas, os vices Pedro Aleixo, em 1967, e Jango, em 1961, foram impedidos de assumir a função em definitivo com o afastamento do titular. Jango, depois de muita negociação política, conseguiu atingir o posto.
Mineiro como Alencar, Delfim Moreira foi o único vice a morrer na função, em 1920, depois de ocupar a interinidade por oito meses com a doença do presidente Rodrigues Alves, que morreu. Moreira tornou-se vice do novo presidente, Epitácio Pessoa. Foi no mandato de Pessoa que Moreira morreu também. Francisco Silviano, em 1902, e Urbano Santos da Costa, em 1922, foram outros vices que faleceram depois de eleitos, mas nem tomaram posse.