Depois de pedir licença temporária do PPS, o deputado federal e ator Stepan Nercessian disse, neste domingo, que solicitará ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara a abertura de uma investigação imediata contra si próprio. "Quero ter o direito de mostrar que sou um figurante nesse épico e não o personagem principal", declarou.
O deputado confirmou ter recebido R$ 179 mil do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, de quem disse ser amigo há 19 anos. Ele afirmou desconhecer atividades ilegais de Cachoeira quando pegou "dinheiro emprestado de emergência", em junho do ano passado. O caso foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo.
Stepan reconheceu que pode ter cometido um "erro primário" e que não é uma situação que o deixa despreocupado, mas disse que não se arrepende. "Não fiz nada escondido. Ao contrário de outras pessoas que estão envolvidas com o Carlinhos, eu nunca fui o Batman que de repente virou o Pinguim. Não renego o meu passado."
O deputado disse, porém, que não vai carregar o caso Cachoeira nas costas. "A única coisa que eu quero é ser responsabilizado pelo que tenho responsabilidade. Não menti, não negociei e não coloquei o meu mandato à disposição de ninguém, como nunca colocarei."
O pedido de licença do PPS, disse ele, foi para preservar o partido. Segundo Stepan, o primeiro depósito, de R$ 160 mil, seria usado na compra de um apartamento, mas foi devolvido para a mesma conta de Cachoeira dois dias depois. Outros R$ 19 mil, disse ele, foram usados para pagar uma frisa no sambódromo do Rio usada por Cachoeira durante o Carnaval.
"Talvez eu não tivesse pedido para esse Carlinhos que hoje está no olho do furacão, mas vou ser amigo sempre, sou grato a ele", disse o deputado. "Pedi dinheiro emprestado a um amigo, 48 horas depois não precisei e devolvi. Esse amigo me pediu para comprar um ingresso para o Carnaval do Rio, botou o dinheiro, eu comprei e entreguei para ele. Quero saber que crime é esse", acrescentou.
Stepan afirmou que nunca conversou sobre negócios ou política com Cachoeira, que a relação dos dois era apenas "social". "Posso até ter bancado o imbecil. Se soubesse que estaria cometendo um crime, primeiro não cometeria. Segundo, se fosse bandido, teria feito as coisas como fazem hoje, tudo muito bem armado, com dinheiro por baixo do pano, caixa dois e etc", disse. "Se acharem que houve quebra de decoro por eu ter pedido dinheiro emprestado, que tenham a coragem de cassar o meu mandato. Não vou entrar nessa sem-vergonhice tipo mensalão, passei a minha vida lutando contra isso."