João abraçava Pedro, que consolava José, que guardava Eduarda, que segurava Miguel. E todos apoiavam Renata. Foi assim, entre abraços, choros e consolo, que os Campos – com olhares tristes e incrédulos – passaram as últimas horas junto aos restos mortais do homem que, além de ex-governador do Estado, foi o pai e o marido exemplar, assim exaltado pelos depoimentos de quem conhecia de perto a família de Eduardo Campos.
Obviamente abalada, Renata – reclusa em casa desde a última quarta-feira – passou quase toda a noite do sábado e o dia de ontem ao lado do caixão. Mantendo sua postura firme, daquelas de quem assume o posto de sustentáculo de suas crias, a mulher escondia num sorriso ameno a tristeza que os olhos, muitas vezes, deixaram revelar através das lágrimas. E buscava forças para si e para os outros. “Esse negócio de tristeza aqui não combina. Aqui é força, alegria e coragem”, disse, consolando aqueles que ousavam lamentar.
Segundo algumas pessoas que estiveram próximas a Renata nos últimos dias, a viúva dizia ter a impressão de que a qualquer momento Eduardo entraria pela porta de casa de volta. Sendo assim, não era difícil pensar que ontem esta ainda era sua esperança.
Aos gritos de uma multidão que lhe desejava força, Renata Campos acenava agradecendo o carinho de milhares de pessoas. E sempre que podia, recebia o aperto de mão ou o beijo daqueles populares que passaram horas na quilométrica fila para chegar mais perto do caixão. Com as autoridades políticas, Renata foi diplomática e abraçou aliados e opositores do seu marido, como Marina Silva e a presidente Dilma Rousseff.
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Perto do início da missa de corpo presente, que começou por volta das 10h30, a ex-primeira-dama de Pernambuco não controlou o pranto quando abraçou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chorou com um sorriso no rosto, trocou frases com Lula – que segurou o pequeno Miguel no colo –, e acolheu, mais uma vez, os filhos tristes com carinho e beijos.
Quem olhava aquela mulher ali, no palanque de frente à sede do governo onde Eduardo trabalhou durante pouco mais de sete anos, admirava sua força de leoa. Renata, uma fortaleza de gente, buscava ser para João, Pedro, Maria Eduarda, José e Miguel a fonte de equilíbrio ante tamanha tragédia que se instalou em sua família nos últimos dias.
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Ao final da missa, logo após receber o consolo dos padres e do arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, que concelebraram a eucaristia, Renata Campos resolveu se recolher. Foi para dentro do Palácio do Campo das Princesas e lá passou cerca de duas horas, só voltando para junto do caixão minutos antes da saída do cortejo fúnebre.
Por fim, acompanhada pela mãe Rejane de Andrade Lima, Renata assistiu, firme, às homenagens de artistas como Maciel Melo, Alceu Valença e Petrúcio Amorim e Antonio Marinho, que cantaram, a pedido da própria viúva, as canções preferidas do marido. E Renata, entre choros, sorrisos e cantos, ergueu o rosto, segurou a alça do caixão de Eduardo, junto com os filhos, e seguiu o percurso em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros. Uma rocha até a última pá de areia jogada no cemitério, não sem antes dar o último beijo no seu amado.