Dilma inclui no programa capítulo sobre gestão pública

O capítulo adicional pedido pela presidente é mais um antídoto para ser usado contra sua principal adversária, Marina Silva (PSB)
Carolina Sá Leitão
Publicado em 18/09/2014 às 22:29
O capítulo adicional pedido pela presidente é mais um antídoto para ser usado contra sua principal adversária, Marina Silva (PSB) Foto: Foto: Fotos Públicas


Após decidir "segurar" o anúncio de sua plataforma de governo, a presidente Dilma Rousseff determinou a ministros a inclusão no programa de um capítulo específico sobre gestão pública, tendo como eixos temas da campanha, como combate à corrupção, melhora no atendimento ao cidadão, modernização da máquina e de "políticas transversais" nas ações cotidianas.

O capítulo adicional pedido por Dilma - após denúncias feitas pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa sobre desvio de dinheiro na estatal em benefício de políticos - é mais um antídoto para ser usado contra sua principal adversária, Marina Silva (PSB). De quebra, ataca o "choque de gestão" defendido pelo candidato do PSDB, Aécio Neves (PSDB).

A presidente pediu a colaboração dos ministros Miriam Belchior (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) nessa tarefa. Embora a propaganda petista já tenha mirado no combate à corrupção, destacando as ações do governo para atacá-la, Dilma quer uma nova embalagem para o assunto "gestão", com o objetivo de sair da defensiva. O objetivo do PT é carimbar Marina, ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula, como uma política "despreparada" para a gestão pública.

Dilma resolveu adiar por tempo indeterminado a divulgação de um programa de governo mais completo, conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo na edição de quarta-feira, 17, após perceber que, em vez de criar uma agenda positiva, o documento poderia ser usado por rivais para desgastar sua candidatura, como ocorreu com Marina.

"Programa de governo não ganha a eleição, mas ajuda a perder. Não vamos dar um tiro no pé", disse um ministro do PT, ao lembrar que Marina lançou sua plataforma no fim de agosto e, um dia depois, publicou uma "errata", retirando apoio a bandeiras do movimento gay. Foi também a partir desse texto, com mais de 200 páginas, que o PT passou a acusar Marina de defender a redução do papel dos bancos públicos e de relegar o pré-sal a segundo plano, o que ela nega.

A decisão de Dilma de adiar o anúncio de seu programa causou protestos no PT, uma vez que 29 grupos setoriais - entre eles o de direitos humanos, LGBT, trabalho e emprego) - já entregaram suas propostas, hoje em fase de sistematização. Agora, há cobranças no partido para que a presidente lance ao menos um "resumo" no primeiro turno e um documento mais elaborado na provável segunda rodada da disputa. Ninguém sabe, porém, o que vai ser feito.

Dilma disse, na semana passada, que seu programa "é mais modernoso" e as propostas já vem sendo divulgadas no horário político de TV e na internet. "Vamos fazer uma coisa bem mais modernosa que o 1.0. Sabe o 1.0, que ninguém lê?", perguntou ela aos repórteres do jornal, numa referência às formas tradicionais de divulgação de conteúdo. "Quem interessa não lê, que é o povo". Na ocasião, ela também indicou que não poria no papel sua promessa de articular no Congresso a aprovação do projeto que torna a homofobia um crime comparável ao racismo. "Isso está na minha boca", afirmou.

Além de Miriam e Mercadante, o ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, foi escalado por Dilma para revisar, no programa de governo, as propostas de emprego e trabalho. Berzoini foi ministro do Trabalho no governo Lula. Algumas das sugestões, como fim do fator previdenciário, provocam tensão entre o PT e o Palácio do Planalto, mas essas divergências, já conhecidas, não são a principal causa do adiamento da plataforma de Dilma. O que o PT não quer é repetir o "efeito Marina" após a divulgação do programa de governo.

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