A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (18) uma moção de repúdio ao tratamento dado pelo governo da Venezuela à comitiva de senadores brasileiros que viajou ao país.
Deputados da oposição também pediram que o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), encerrasse os trabalhos do dia como forma de protesto do Parlamento brasileiro.
Inicialmente, Cunha não aceitou o pedido e disse que manteria os trabalhos. Mas, diante do acirramento de ânimos, ele decidiu adiar a votação do projeto de lei que trata de desonerações de setores da economia brasileiro para a semana que vem.
"Independente de qualquer diferença política que possa existir, não podemos admitir que senadores brasileiros que estavam em um avião da Força Aérea Brasileira e tinham uma suposta escolta policial sejam submetidas a agressões dessa natureza", disse Cunha.
"E isso, obviamente, contaminou o processo legislativo no dia de hoje e tornou inviável qualquer deliberação", completou o peemedebista.
Cunha precisou entrar em contato com o chanceler Mauro Vieira por telefone durante a sessão, suspendendo-a por cinco minutos. A mobilização dos deputados começou quando o presidente da Casa iniciava a votação do projeto que trata das desonerações de diversos setores produtivos do país.
"Os senadores brasileiros viveram uma verdadeira arapuca porque receberam a informação do governo venezuelano de que poderiam desembarcar no aeroporto de Caracas, mas ficaram impedidos de sair de lá", afirmou o deputado Mendonça Filho (DEM-PE) na tribuna da Câmara.
"Pedimos a suspensão da sessão para que o Parlamento brasileiro receba uma resposta oficial", pediu o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT).
TENSÕES
Após conversar com Mauro Vieira, ele relatou aos deputados ter ouvido do chanceler que os senadores foram recebidos por uma escolta policial mas não conseguiram prosseguir até Caracas porque havia um engarrafamento. Neste local, manifestantes apedrejaram a van, que teve que retornar ao aeroporto.
"É claro que um episódio dessa natureza provoca tensão", disse Cunha. Ele anunciou também que pediu ao chanceler uma posição oficial do governo brasileiro sobre o episódio, emitida em nota, e a garantia da integridade dos senadores.
Um grupo de deputados da oposição formou uma comissão para ir ao Ministério das Relações Exteriores ainda na tarde de hoje para conversar com Mauro Vieira. Cunha rejeitou o pedido de convocação do ministro pela Câmara. "É contraditório. Se formamos uma comissão para ir até lá, não faz sentido chamar ele aqui", disse Cunha.
O líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE), informou ao plenário que a presidente Dilma já estava em contato com o governo de Nicolas Maduro para resolver o incidente.
"O governo brasileiro quer garantir a integridade física e o direito de ir e vir dos senadores brasileiros. Não venham me dizer que não respeitamos a oposição no Brasil. Não vamos aceitar qualquer ação do governo da Venezuela que possa comprometer o direito de ir e vir dos senadores da oposição, mas não temos que fazer além do que o Itamaraty já está fazendo", disse Guimarães.
O líder da minoria na Casa, Bruno Araújo (PSDB-PE), cobrou que a presidente Dilma chame o embaixador brasileiro de volta ao país. "É preciso tomar medidas enérgicas", disse.
A delegação, que viajou a bordo de um avião da FAB, é comandada por Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Também estão na comitiva Cássio Cunha Lima (PSDB), José Agripino (DEM), Ronaldo Caiado (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB), José Medeiros (PPS) e Sérgio Petecão (PSD).
A comitiva deve embarcar de volta ao Brasil na noite desta quinta-feira.
Para se contrapor à presença dos senadores, o governo venezuelano convidou um grupo de brasileiros militantes de esquerda e membros de sindicatos, que cumpre agenda de encontros e aparições na mídia estatal.