A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras ouve nesta quinta-feira (2) o depoimento reservado de dois policiais federais que atuam na Operação Lava Jato. Os parlamentares querem mais informações sobre a descoberta de uma escuta clandestina na cela do doleiro Alberto Youssef na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba, divulgado recentemente pela imprensa.
O grampo foi encontrado em 2014 na cela do doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores do esquema investigado na Operação Lava Jato. Em sessão reservada, os deputados estão ouvindo o agente Dalmey Fernando Werlan, suspeito de ter instalado a escuta na cela de Youssef e em uma área usada como fumódromo pelos presos.
De acordo com o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), Werlan informou que implantou as escutas clandestinas a pedido do superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Franco, e dos delegados Igor Romário de Paula e Márcio Anselmo, todos seus superiores.
“O que fica claro é que tem muita coisa aí. Não dá para saber o que é, mas a CPI terá de ouvir os três delegados e confrontar as versões apresentadas hoje”, disse Valente. Ele adiantou que protocolará um requerimento convocando os citados.
Segundo o deputado, o agente não sabia que estava agindo sem respaldo em decisão judicial. Valente disse que, quando o grampo do fumódromo foi descoberto, os três delegados informaram ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato, que era um grampo antigo, implantado com autorização da Justiça na época em que o traficante Fernandinho Beira-Mar estava preso na superintendência. “Foi dada uma informação incorreta ao juiz”, afirmou o deputado.
Após a informação do grampo ilegal, os deputados passaram a temerem pela legalidade da operação. "Está claro que há uma implantação ilegal de escuta. Isso é um fato que naturalmente precisa ser investigado”, disse a deputada Eliziane Gama (PPS-MA). “É cedo para avaliar o que isso significa para o conjunto da investigação da Lava Jato e para dizer se, eventualmente, pode colocar em xeque a operação”, completou.
Os parlamentares também ouviram hoje, em sessão reservada, José Alberto de Freitas Iegas, ex-diretor de Inteligência da PF. Ele foi citado por suposto envolvimento em uma disputa pelo controle da Superintendência da PF no Paraná. Os dois policiais são alvo de sindicância interna da corporação.
O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), esclareceu que o caso é grave e que tem de ser apurado. "Tenho receio de que isso contamine a investigação. Existem, no âmbito interno da PF, denúncias sobre esses procedimentos. A CPI tem obrigação de estar a par de tudo. Quem fez isso sem autorização da justiça que seja punido, de modo que não se transforme em praxe dentro das investigações.”
“O que não queremos é que a CPI atrapalhe o trabalho da Polícia Federal”, concluiu Hugo Motta.