Nesta terça-feira (8), a presidente Dilma mandou dois emissários procurarem o vice-presidente Michel Temer, para tentar amenizar o clima ruim que se estabeleceu entre os dois, aumentando ainda mais a temperatura da crise que tomou conta de Brasília. A "bandeira branca" foi levantada por Dilma para Temer, que aguarda o chamado da presidente para a conversa. Ao ser avisado do pedido do encontro, Temer sinalizou que o aceitaria dizendo que "não se recusa convite de presidente".
O primeiro emissário de Dilma para Temer foi o ministro da Advocacia Geral da União, Luiz Inácio Adams, que chegou ao Palácio do Jaburu, perto da meia-noite de segunda-feira, para tentar agir como "bombeiro" na crise que se instalara, depois de Temer se queixar que o governo o trata como traidor e que estava conspirando contra a presidente para assumir o seu lugar após o impeachment. O segundo emissário foi o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, que, no meio da tarde desta terça-feira, telefonou para Temer, a pedido de Dilma, para levar um recado da presidente que ela gostaria de encontrar com ele, ainda na terça, para uma conversa. Até o início da tarde de terça, este encontro seria impossível de ser imaginado e estava completamente descartado. Mas, depois das intermediações, ficou acertado que Temer aguardaria o chamado de Dilma, que poderia acontecer ao final da agenda de ambos. Só que, ao final do dia, Temer foi avisado pelo Planalto que o melhor era deixar a reunião para quarta-feira, assim que Dilma chegasse de viagem.
Até agora, a disposição do vice-presidente Michel Temer em ajudar a presidente Dilma na derrubada do processo de impeachment no Congresso é zero. Assessores do vice dizem que ele sempre trabalhou pela governabilidade de Dilma e que ela não reconhece nada que ele faz. Ao contrário, despreza todo o potencial que Temer tem, já que é um constitucionalista reconhecido. Mas apesar de toda a crise política que atingiu níveis ainda mais altos com a divulgação da carta de Temer, os interlocutores do vice-presidente asseguram que não há um rompimento entre os dois, apenas um distanciamento, uma espécie de "dar um tempo" para que, neste período, possam "fazer uma DR - discussão da relação". Os interlocutores de Temer lembram ainda que "o primeiro tempo" na relação dos dois foi dado pela própria presidente Dilma que chegou a ficar 45 dias sem falar com o vice-presidente, enquanto se aproximava do líder do PMDB, Leonardo Picciani, durante o período de preparação da reforma ministerial, anunciada em outubro. Nesta época, de acordo com os interlocutores do vice-presidente, Dilma e Temer ficaram sem se falar 45 dias.
Ao final do dia, o governo estava convencido de que a derrota no plenário que aprovou que a comissão que julgará o impeachment será comandada pelos oposicionistas foi resultado também deste embate entre Dilma e Temer, em decorrência da carta escrita pelo vice.
Dilma e Temer foram muitos criticados neste episódio. Temer, porque os aliados de Dilma dizem que ele trabalha contra a presidente e tem alimentado o processo de impeachment e Dilma porque não ouve os aliados e não os consulta para tomar as decisões de seu governo. O clima esquentou na noite de segunda-feira quando, além da divulgação da carta com as queixas de Temer, o vice-presidente desabafou a interlocutores que o processo de impeachment tem lastro jurídico. A afirmação foi entendida como uma declaração de guerra contra o governo petista.
Dilma quer a reaproximação com Temer porque sabe que o governo não tem nada a ganhar com este rompimento já que a presidente precisa de cada voto, de cada partido aliado e, se possível, até da oposição, para barrar o processo de impeachment contra ela. O clima no Congresso não tem sido nada favorável à presidente Dilma e ela precisa do PMDB de Temer para reverter isso.