O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) disse ao juiz federal Sérgio Moro, durante interrogatório a que foi submetido na sexta-feira (29) que 'não se pode dizer que escolheu e indicou Renato Duque' para a Diretoria de Serviços da Petrobras, em 2003. "Mas também não se pode dizer que eu não tive participação (na escolha de Duque), não é da minha índole nem da minha história. Eu assumo minhas responsabilidades, mas eu só assumo as minhas responsabilidades."
A suposta indicação de Duque pesa contra Dirceu na ação penal em que ele é réu da Operação Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Duque teria sido o braço do PT no esquema de propinas instalado na Petrobras, conduzido por Dirceu para o cargo estratégico. Diante do juiz Moro, o ex-ministro invocou o depoimento do ex-presidente Lula - recentemente, à Polícia Federal, Lula disse que as indicações para os cargos da Petrobras passavam pela Casa Civil, então sob comando de Dirceu.
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muito claro. Ao final desse processo (de indicações) eu concordava ou não com os nomes apresentados, como é normal em qualquer governo presidencialista. Eu assumo as responsabilidades, mas as responsabilidades que eu tenho, não aquilo que eu não tenho. Essa lenda (da indicação de Duque) percorre dez anos da minha vida."
Dirceu enfatizou
"Vou tomar por base o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A indicação, como em todo governo, vem da base partidária, do próprio governo, de ministros, da equipe de transição. Não é uma indicação exclusiva. Isso é uma composição política, como é na Inglaterra, nos Estados Unidos, em Portugal e na Espanha está acontecendo agora. O papel da Casa Civil é receber todas as indicações, de todos os Ministérios, do primeiro escalão, de todas as empresas estatais ou autarquias para a Casa Civil analisar. Há órgãos especializados, desde a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e a própria secretaria-geral da Casa Civil que analisam os antecedentes (do indicado), a competência técnica, a história na empresa, história política, folha corrida, os interesses de forma transparente. Se for assim eu indiquei todos os ministros, todos os diretores das estatais. Tudo passa pela Casa Civil. Se for assim indiquei todos os diretores."
O juiz Moro cortou. "Mas o sr. teve alguma participação especial (na indicação) de Renato Duque?"
"Não tive nenhuma participação especial. Só conheci o dr. Renato Duque depois que ele já estava (na Diretoria de Serviços da Petrobras). Ninguém me procurou, não assumi compromisso com ninguém sobre indicação de Renato Duque ou de Nestor Cerveró (ex-diretor de Internacional da Petrobras) ou José Eduardo Dutra (ex-presidente da Petrobras). Setores do PSDB, não vou dizer que foi o senador Aécio Neves porque ele não conversou isso comigo, não pediu isso pra mim. A informação que chegou é que havia uma indicação do PSDB em Furnas, aliás, é público e notório no País, o sr. Dimas Toledo. A indicação do sr. Renato Duque prevaleceu nesse sentido, não porque houvesse uma preferência (por ele). É porque não havia nenhuma óbice técnica com relação ao comportamento dele como indicado para a diretoria da Petrobras. Não se pode dizer que eu escolhi, que eu indiquei Renato Duque, mas também não se pode dizer que eu não tive participação, não é da minha índole, nem da minha história. Eu assumo as responsabilidades, mas só assumo as minhas. E o ex-presidente Lula foi muito claro."
O juiz perguntou a Dirceu se depois da indicação ele manteve relacionamento com Duque. "Pouquíssimo relacionamento. Ele esteve na Casa Civil depois, um ato com vários amigos, vários empresários e diretores de estatais."
O ex-ministro disse que foi ao casamento da filha de Duque porque suas famílias são praticamente vizinhas há muitos anos - Dirceu é nascido em Santa Rita do Passa Quatro, Minas, e Duque é da cidade de Cruzeiro, em São Paulo, cidades muito próximas.
O ex-ministro confirmou que participou de jantares com Duque enquanto ele era diretor de Serviços da Petrobras, mas negou tratar de propinas. "Nunca pedi nada ao senhor Renato Duque", afirmou Dirceu.
"Um dos jantares, como está nos autos, participou o João Vaccari Neto, que era tesoureiro do PT, meu companheiro de partido. Mas nunca discuti nesses jantares licitações, comissões. As discussões eram politicas, sobre a empresa, do ponto de vista sobre a situação do petróleo, do País, da economia. Nunca tratei com nenhum deles comissão."
O ex-ministro negou também que tenha participado de jantar na casa do operador de propinas Milton Pascowitch, delator da Lava Jato, para tratar de contrato das empresas Hope e Personal - contratadas da Petrobras. As empresas pagariam, segundo o delator Fernando de Moura, um "cala boca" mensal para ele de R$ 30 mil, a pedido de Duque, após o escândalo do mensalão, para que ele ficasse em silêncio.
"Não é verdade que fui a casa do senhor Milton Pascowitch, que fui discutir revalidação de contrato da Hope Personal por mais 18 meses. Não discuti isso naquele jantar, que era mais social."