"É preciso o impeachment do atual modelo político", diz Cristovam Buarque

Senador pernambucano, radicado no Distrito Federal, afirma que Lula e Dilma colocaram a esquerda debaixo dos escombros e pede uma nova esquerda
Do JC Online
Publicado em 17/04/2016 às 8:10
Senador pernambucano, radicado no Distrito Federal, afirma que Lula e Dilma colocaram a esquerda debaixo dos escombros e pede uma nova esquerda Foto: Foto: Waldemir Barreto/ Agência Senado


Pernambucano, nascido no Recife em 1944, mas com mandato pelo Distrito Federal, o senador Cristovam Buarque (PPS) é um dos mais respeitados homens públicos do País. Ele foi ministro da Educação do primeiro governo Lula (PT), entre 2003 e 2004, e hoje é um dos maiores críticos do modelo político encabeçado pelo ex-presidente da República e executado pela presidente Dilma Rousseff (PT). 

Cristovam é uma das vozes que defendem o impeachment da presidente, mas enfatiza que a iniciativa pouco ajudará o País. "Com o impeachment ou com Dilma no governo, o Brasil vai ficar no mesmo rumo de uma crise profunda. Não tenho otimismo do que vai acontecer na história, política, econômica e social do Brasil nos próximos anos", opinou.

Ninguém escapa às críticas de Cristovam. "A democracia entrou em crise porque os partidos não significam nada, o Congresso não funciona bem e o Executivo aparelhou o Estado. Há uma crise de modelo. Precisamos de um impeachment do modelo", falou. 

Para o senador, que já foi filiado ao PT, a esquerda brasileira sairá manchada após os últimos acontecimentos, que envolvem desde a Operação Lava Jato até o processo de impeachment de Dilma.

"A esquerda brasileira sai mais do que arranhada desses episódios. Ela está embaixo dos escombros criados pelo governo do PT", diz. 

A solução, segundo o senador, é o surgimento de uma nova esquerda. "Uma esquerda que entenda a estabilidade monetária como algo possível, que o fundamental não seja o estatal, mas o público, que ponha a educação como motor do progresso. Tenho a impressão que isso vai demorar, que vai ter que passar pela oposição para acontecer. O lugar de definir sonhos é a oposição e o de realizar é o governo", declarou.

A culpa pelos ferimentos que a esquerda vem sofrendo, na visão de Cristovam, é debitada na conta de Lula. Ele vê prejuízos se o ex-presidente voltar a liderar o País seja oficialmente, a partir de novas eleições, ou extraoficialmente, por meio de uma participação no governo Dilma.

"A esquerda velha, liderada pelo Lula, não tem compromisso rígido com a estabilidade monetária. É a esquerda da estatização em vez da cooperação público-privada, do aumento do consumo em vez do bem-estar, do automóvel para todos em vez do transporte público de qualidade. É a que diz que quer garantir privilégios para todos, mas isso não existe. O que existe é direito para todos", destaca.

Sobre o governo Dilma, Cristovam também faz uma avaliação nada impiedosa. 

"O que a gente está vendo é a coincidência de três fatos. Incompetência e irresponsabilidade do governo Dilma. Mentiras na campanha que se manifestaram como verdadeiro estelionato eleitoral. E a Lava Jato mostrou a corrupção generalizada na política, principalmente no bloco ao quel a pertence a presidente Dilma", pontuou.

O Bolsa Família, um dos carros-chefe do governo Lula e que foi mantido por Dilma, recebeu considerações do senador. "A transferência de renda, que surge com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e é ampliada por Lula, esgotou-se pelo fato que não foi capaz de emancipar o povo. Há uma dependência do povo em relação a esses mecanismos",disse. 

A entrevista de Cristovam Buarque foi concedida ao repórter Romoaldo Souza, correspondente da Rádio Jornal em Brasília.

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