O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá pedir a abertura de um inquérito para investigar o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, citado em delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho e no depoimento espontâneo do advogado José Yunes.
Amigo e ex-assessor especial do presidente Michel Temer, Yunes disse que atuou como "mula involuntária" de Padilha ao receber um "envelope" do operador financeiro Lúcio Funaro. As declarações fragilizaram a situação de Padilha no Palácio do Planalto e abriram uma nova crise no governo.
Em dezembro, a Coluna do Estadão informou que Funaro entregou a Yunes R$ 1 milhão em espécie, quantia proveniente do caixa 2 da Odebrecht, a mando de Padilha. Após vir à tona a delação de Melo Filho, Yunes deixou o governo.
As declarações do ex-assessor aumentaram as articulações no governo para que Padilha deixe o cargo após a licença que ele tirou para tratar sua saúde. Ele passa por exames finais pré-operatórios em Porto Alegre e deverá ser submetido a uma cirurgia até segunda-feira. Para tanto, tirou uma espécie de "licença informal", sem oficializar qualquer afastamento temporário. O ministro avisou que pretende retornar ao trabalho em Brasília em 6 de março.
Embora a investigação já estivesse prevista no grupo de trabalho de Janot desde que o ministro foi citado na delação de Melo Filho, a avaliação na PGR é de que o depoimento de Yunes reforçou a necessidade de que Padilha seja alvo de inquérito.
Nos bastidores, o procurador-geral costuma revelar que nenhuma citação feita nas delações que indique suposto cometimento de crime deve ficar sem abertura de investigação. A solicitação para investigar Padilha deverá estar no pacote que Janot pretende encaminhar ao Supremo Tribunal Federal após o carnaval com base nas delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht.
Yunes esteve na semana passada no Ministério Público Federal e afirmou que recebeu uma encomenda de Funaro em setembro de 2014, pouco antes da reeleição da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. Funaro é apontado por investigadores da Operação Lava Jato como operador do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em Curitiba.
Padilha é um dos principais auxiliares de Temer, responsável pela articulação da reforma da Previdência. Sua saída seria mais uma baixa no núcleo duro do governo, após as demissões de Romero Jucá (Planejamento) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo)
Temer não pretende, por ora, tirá-lo. Segundo fontes, o presidente leva em conta o fato de que um eventual afastamento do auxiliar faria com que ele perdesse o foro privilegiado e ficasse sob a jurisprudência do juiz Sérgio Moro.
O "fogo amigo" no Planalto contra Padilha usa como argumento a saúde frágil do titular da Casa Civil. Um beneficiário direto de uma possível saída de Padilha seria o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), outro integrante do núcleo de conselheiros de Temer, que poderia ampliar seu poder de atuação no governo.
Ao longo da semana, Temer teve de administrar uma divisão na bancada do PMDB na Câmara em razão da nomeação do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.