O presidente Michel Temer tentava nesta quarta-feira neutralizar a crise que atinge seu gabinete, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a investigação de oito ministros, um terço do Senado e cerca de 40 deputados por suspeita de corrupção.
A lista divulgada na noite de terça-feira aponta para o núcleo duro do Legislativo e do Executivo, que fazem parte de uma estreita sociedade desde que o conservador Michel Temer chegou à Presidência no ano passado, após a destituição de Dilma Rousseff por maquiar as contas públicas.
Os partidos com maior número de investigados são: o PMDB, do presidente Michel Temer; o PT, retirado do poder em 2016 após o impeachment da presidente Dilma Rousseff; e o PSDB, principal aliado do atual governo.
O STF autorizou a abertura de 76 inquéritos contra 98 pessoas, que envolvem oito ministros - inicialmente haviam falado em nove, mas o Supremo esclareceu que um caso foi devolvido para ser reavaliado - um terço do Senado (24 de 81), cerca de 40 deputados e três governadores, sem distinção de partidos.
A notícia esvaziou o Congresso na véspera e ameaça as reformas econômicas impulsionadas pelo governo para enfrentar a recessão.
Apesar das tensões, Temer buscou transmitir normalidade durante um evento em Brasília.
"O governo não para", afirmou. "O Executivo executa, o Legislativo legisla e o Judiciário julga. Cada um exerce suas funções e nada deverá paralisar a função governamental", completou.
Para o cientista político César Carvalho, da consultora CAC, o presidente "está fazendo o que o manual manda": minimizar a crise, ganhar tempo e esperar que o longo prazo da Justiça jogue a seu favor.
"Enquanto Temer tiver o apoio do Congresso, o governo Temer resiste, sendo popular ou não", acrescentou, em referência à baixa popularidade que tem entre os brasileiros, com apenas 10%.
Se continuar assim, Temer só será substituído pelo presidente eleito nas eleições de outubro de 2018.
O cientista político da Universidade de Brasília David Fleischer acredita que Temer sentirá o golpe sobre seu primeiro círculo de assessores e poderá haver deserções em sua base aliada.
"O já enfraquecido presidente Michel Temer ficará ainda mais fraco e, talvez, perca o controle de seu grupo de apoio no Congresso, onde muitos já estão 'desesperados', em vista de suas possíveis reeleições em 2018", escreveu em um relatório.
O alcance da investigação da relação entre política e finanças opacas é constatada em quatro ex-presidentes mencionados na lista.
O hoje senador Fernando Collor (1990-1992) será investigado pelo STF e os casos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), todos sem foro, foram enviados a tribunais de menor instância para análise.
Lula já enfrenta cinco processos vinculados ao extenso esquema de corrupção. Em 3 de maio, o possível candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto para 2018 ficará diante de seu arqui-inimigo: o juiz Sérgio Moro, transformado em ícone da luta contra a corrupção.
O próprio Temer foi citado no escândalo, embora a Constituição impeça de investigá-lo, e a imprensa afirma que o ex-presidente José Sarney (1985-1990) também foi relacionado nas delações da Odebrecht.
Caso sejam confirmadas as acusações, estariam envolvidos todos os moradores do Palácio do Planalto desde o retorno à democracia em meados dos anos 1980, excetuando-se Itamar Franco (1992-1995), que faleceu.
"É o fracasso de um sistema", resumiu um assessor do governo que pediu anonimato.
Enquanto ainda é aguardada a revelação dos detalhes das delações da Odebrecht, a estratégia dos políticos se concentra em conseguir que os eventuais crimes descobertos sejam considerados violações à justiça eleitoral, que tem condenações muito mais brandas que as de corrupção.
Isto é, que sejam julgados por fundos de campanha não declarados, ao invés de propina recebida em troca de favores.
Neste contexto aparecem nomes de peso assinalados pela Justiça, como Eliseu Padilha (PMDB), ministro-chefe da Casa Civil; Wellington Moreira Franco (PMDB), secretário-geral da Presidência; e Aloysio Nunes (PSDB), ministro das Relações Exteriores.
Temer antecipou que suspenderá temporariamente os seus ministros se as investigações baseadas nas delações da Odebrehct, empresa-chave na rede de corrupção que desviou dois bilhões de dólares da Petrobras, se converterem em denúncias e fará com que eles renunciem caso sejam julgados.
Por enquanto, as confissões não são consideradas provas até que sejam constatadas em um tribunal.
A lista também inclui o presidente do PMDB, Romero Jucá; o líder do PSDB e ex-candidato à Presidência, Aécio Neves; o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB); e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).