Ao falar na abertura do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o juiz Sérgio Moro disse que não tem desavença pessoal com o ex-presidente e frisou que a acusação é feita pelo Ministério Público Federal.
"Eu queria deixar claro em que pesem algumas alegações nesse sentido, da minha parte eu não tenho qualquer desavença pessoal em relação ao senhor ex-presidente. O que vai determinar o resultado desse processo no final deste processo são as provas que vão ser colecionadas e a lei", disse Moro. "Eu estou aqui para ouvi-lo e para proferir um julgamento ao final do processo", completou o juiz.
>> Veja os vídeos do interrogatório de Lula ao juiz Sérgio Moro
>> Saiba o que pode acontecer com Lula após o depoimento desta quarta
O juiz avisou também a Lula que não haveria nenhuma possibilidade de o ex-presidente ser preso durante o depoimento e que haveria perguntas difíceis, o que é "natural do ato judicial". "O objetivo é esclarecer a verdade e 'oportunizar' que o senhor tenha uma resposta para cada pergunta".
"Para quem quer falar a verdade não tem pergunta difícil", respondeu Lula.
O depoimento começou com perguntas do juiz, seguido da assistência da acusação e dos procuradores do Ministério Público Federal. Em seguida, houve um intervalo. O interrogatório foi retomado e Moro voltou a fazer perguntas. Depois, os advogados de Lula apresentaram alguns questionamentos. E por último, o ex-presidente fez suas alegações finais. Após depor, o ex-presidente participou de ato na Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, onde estavam concentrados manifestantes que apoiam Lula.
Lula foi interrogado por cerca de cinco horas na ação penal sobre o caso triplex. A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio - de um valor de R$ 87 milhões de corrupção - da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012.
As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira por meio do triplex 164-A no Edifício Solaris, no Guarujá (SP), e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela Granero de 2011 a 2016. O petista é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção.
O ex-presidente disse que visitou o edifício com a ex-primeira-dama Marisa Letícia que lá encontrou "500 defeitos no apartamento", sem no entanto afirmar ter orientado uma reforma para uma compra posterior.
Depois, Moro fez referência a uma segunda visita de Marisa Letícia ao local onde fica o apartamento citado na ação. O petista disse que não tinha certeza.
"Me parece que ela esteve lá, sim. Soube pelo meu filho. Não saberia dizer o que ela foi fazer lá. Mas certamente dizer que esse apartamento era inutilizado por mim, porque, como figura pública, eu só poderia frequentar aquela praia às segundas-feiras ou na quarta-feira de cinzas", falou Lula.