Buscando se consolidar como candidato, Bolsonaro tem buscado dar sinais mais claros do que pensa sobre economia, uma das áreas em que é mais cobrado desde que começou a flertar com a pré-candidatura. O deputado já admitiu que não domina o tema e ainda não tem um guru na área, mas tem procurado dialogar com grupos de direita para reverter reações adversas e desconfianças. No início da semana, o dólar subiu e a Bovespa caiu após o mau humor com a pesquisa que coloca Lula e Bolsonaro no segundo turno.
Em diversas entrevistas, Bolsonaro tem pregado uma redução do Estado e privatizações. Embora já tenha admitido mais de uma vez a possibilidade de vender a Petrobras, ele reitera que a estatal e setores estratégicos como a transmissão de energia e as terras agricultáveis devem vir por último em uma hierarquia do que pode ser repassado à iniciativa privada. Ele também tem mostrado pouca inclinação em passar esses setores para mãos estrangeiras.
A principal resistência de Bolsonaro parece ser em vender empresas públicas para a China, uma das mais vorazes economias internacionais, com quem ele pretende preservar uma relação comercial. Na política externa, o presidenciável também já defendeu “rompimento das amarras” com o Mercosul e uma aproximação bilateral com os Estados Unidos.
Nas poucas vezes que falou sobre a agenda de reforma, Bolsonaro disse apenas que uma das soluções para o déficit da Previdência seria acabar com as fraudes, evitando entrar em detalhes sobre mudanças nas regras do setor. Também já defendeu publicamente uma forte redução nos juros e a exploração econômica de reservas indígenas. Ele também tem reiterado que a propriedade privada é sagrada e já disse que apoiaria o uso de armas por fazendeiros para defender a produção agrícola de ocupações.
Para José Luiz Pagnussat, ex-presidente do Conselho Federal de Economia, é difícil ter clareza sobre qual seria o receituário de Bolsonaro para a área economia, ao contrário de nomes como os de Lula e Alckmin, de quem já se sabe o que esperar. “O mercado ainda não precificou a candidatura dele. Até porque na avaliação da maioria dos analistas ele não tem chance de ser eleito. Claro que a partir do momento que se aproxime as eleições e que os candidatos se mostrem fortes, o mercado deve começar a dar sinais em relação às posições deles na área da economia. Em geral, cada candidato tem prós e contras e o mercado avalia isso”, explica.
O economista, lembra, porém, que as posições polêmicas de Bolsonaro podem causar dificuldade. “A eleição dele tem impactos negativos na área internacional. Porque vai ter reação de muitos países em relação às posições que ele tem na área social. Isso certamente dificulta o acesso do Brasil a determinados mercados. Os agentes econômicos avaliam negativamente a eleição de um candidato que gere desconforto na economia”, avalia.
O JC procurou a assessoria de imprensa de Bolsonaro para ouvir sobre as agendas de viagens e a pré-campanha do deputado, mas não teve retorno até o fechamento da matéria.