O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou nesta quinta-feira (30) que o Brasil não se sujeitará aos desejos de outros países, após o presidente francês, Emmanuel Macron, indicar que a posição do futuro governo sobre as mudanças climáticas poderá dificultar as negociações comerciais com a União Europeia.
"Sujeitar automaticamente nosso território, leis e soberania a colocações de outras nações está fora de cogitação. É legítimo que países no mundo defendam seus interesses e estaremos dispostos a dialogar sempre, mas defenderemos os interesses do Brasil e dos brasileiros", tuitou Bolsonaro.
"Não sou favorável à assinatura de acordos comerciais amplos com potências que anunciam que não respeitarão o Acordo de Paris", declarou Macron em Buenos Aires, onde está para a Cúpula do G20.
"Peço a meus trabalhadores, a meus atores econômicos, que façam esforços para se adaptar ao Acordo de Paris, o que as vezes é difícil e implica em sacrifícios".
Ao comentar as declarações de Macron, o presidente eleito disse que o Brasil permanecerá no Acordo de Paris, sempre que isto "não signifique abrir mão da soberania sobre a maior parte da Amazônia".
Bolsonaro alega que o acordo coloca em risco a soberania brasileira sobre uma região de 136 milhões de hectares conhecida como "Triplo A", que vai dos Andes ao Atlântico, atravessando a Amazônia.
O Brasil, até o momento um dos líderes da luta contra o aquecimento global, retirou sua oferta para abrigar a Cúpula Mundial do Clima COP25 em 2019, a pedido de Bolsonaro, que assume a presidência no dia 1º de janeiro.
UE e os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) iniciaram há quase 20 anos negociações para um acordo comercial que está a ponto de se concretizar, após anos de estancamento e adiamentos.
Nesta quinta-feira, em entrevista ao jornal argentino La Nación, Macron admitiu que a "França mantém uma importante aliança estratégica com o Brasil" e deseja que continue assim, "com base nos valores democráticos".
Mas advertiu que "esta nova realidade política (com a eleição de Bolsonaro) suscita fortes preocupações e é provável que tenha repercussões sobre as discussões comerciais entre Mercosul e UE".