O governo Jair Bolsonaro tenta manter o senador Renan Calheiros (MDB-AL) como candidato rival na disputa pela presidência do Senado. A estratégia tem como objetivo usar a rejeição ao emedebista na opinião pública para turbinar uma candidatura mais afinada com o Palácio do Planalto, que seria classificada como "anti-Renan".
A operação foi iniciada na segunda-feira (21) pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), que tenta cacifar seu correligionário, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Onyx enviou o deputado Leonardo Quintão (MDB-MG) como emissário para convencer a líder do MDB no Senado, Simone Tebet (MS), a desistir de se lançar na disputa e, assim, deixar o caminho aberto para Renan. Em troca, foi oferecida a presidência de alguma comissão importante na Casa.
A estratégia, porém, foi considerada desastrosa pela cúpula do MDB. Nesta terça-feira (22), Simone reafirmou que será candidata e sugeriu "interferência" do governo. "Acho que tem um ruído de interferência da Casa Civil aqui no Senado e isso foi uma das razões que entendi que tinha que colocar minha candidatura: para ver se realmente o governo está preterindo o MDB. A informação e o feedback que recebi é que não é o governo, mas o DEM que quer disputar (a presidência do Senado)", disse ela.
Para a senadora, o MDB tem direito a ficar com a presidência do Senado por ter eleito a maior bancada da Casa. Ela sugere ainda que, caso o DEM e Onyx decidam desrespeitar essa regra, o partido poderá prejudicar a votação de reformas importantes, como a da Previdência.
A manobra criou constrangimento até para o senador eleito Major Olímpio (PSL-SP), que também se lançou candidato. "Causa um desconforto (a interferência) porque quem fala pelo governo de Bolsonaro é o presidente. Ele disse a mim 'não vou interferir no processo, em eleições nem na Câmara nem no Senado", disse Olímpio.
Ao Estadão/Broadcast, Renan disse que isso não significa que a gestão Bolsonaro o esteja mirando como inimigo. Nas palavras dele, há "vários governos". A Casa Civil não comentou.