O número de parlamentares que se apresentam como candidatos à presidência do Senado, na véspera da votação, é recorde, podendo transformar a eleição desta sexta-feira, dia 1º, na mais disputada desde a redemocratização. Ao todo, nove senadores anunciaram disposição de disputar o pleito. Até então, o maior número de concorrentes havia sido registrado na eleição de 2001, quando três candidatos disputaram o cargo. A oficialização das candidaturas será feita pouco antes do início da sessão.
Uma das possíveis explicações para esse crescimento é a pulverização de partidos no Senado desde 2015. Os resultados das urnas estabeleceram um quadro com parlamentares de 21 legendas, número muito superior às 15 siglas com representantes eleitos quatro anos atrás. Com as negociações partidárias e o troca-troca de legendas, a Casa deve começar a próxima legislatura, no entanto, com um número menor: 17 siglas representadas.
Por conta disso, caso nenhum dos pré-candidatos desista de participar, os 81 senadores poderão ter de escolher entre Alvaro Dias (Podemos-PR), Ângelo Coronel (PSD-BA), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Esperidião Amin (PP-SC), José Reguffe (Sem partido-DF), Major Olímpio (PSL-SP), Renan Calheiros (MDB-AL), Simone Tebet (MDB-MS) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Um símbolo dessa pulverização é que até mesmo a maior bancada do Senado, o MDB, com 13 senadores até o momento, pode registrar o fenômeno de ver dois de seus senadores disputarem os mesmos votos no plenário. A decisão final da bancada em relação a essa disputa deve sair nesta quinta-feira, 31, mas, mesmo se a bancada optar por Renan, a senadora Simone Tebet cogita se lançar como "candidatura avulsa".
"É natural (esse número de candidaturas), nunca o Senado teve tantos partidos. Isso é relação direta da fragmentação", disse Amin.
Entre os candidatos, há até senadores recém-eleitos que nunca tiveram mandato no Senado, como é o caso de Ângelo Coronel e Major Olímpio - um perfil considerado incomum para o Senado. "Eu não sou candidato só por ser candidato, eu sou o único até agora que trouxe propostas", afirmou Angelo Coronel, que tem sugerido que o Senado crie uma espécie de "ministérios paralelos" para fiscalizar os ministros do governo Bolsonaro.
O único aspecto em comum entre tantas candidaturas é a oposição ao nome de Renan Calheiros, que tenta se eleger pela quinta vez para a presidência da Casa. Os oito adversários do emedebista se reúnem nesta quinta, pela segunda vez, para tentar um consenso que unifique o voto "anti-Renan". Ainda assim, nenhum dos nomes colocados dá sinais de que pode abrir mão da eleição. O PSDB, de Tasso Jereissati, era a única legenda que flertava com um apoio a Simone Tebet, mas recuou depois que o MDB decidiu deixar apenas para esta quinta a decisão final sobre quem será o indicado pela legenda.
Como forma de constranger Renan, legendas como o próprio PSDB, o PSD e a Rede resolveram defender o voto aberto e anunciaram que seus senadores darão publicidade sobre como vão votar. "Se eu pudesse dar um conselho a ele (Renan) neste momento, eu recomendaria que ele não fosse candidato. Não é um bom momento", disse o líder da Rede, senador Randolfe Rodrigues (AP).
No PSD, essa medida criou constrangimento até mesmo com a cúpula da sigla. A reportagem apurou que, num jantar na segunda-feira, o presidente do partido, Gilberto Kassab, chegou a negociar com Renan a entrega de oito votos favoráveis a ele.
Pelo acordo, a legenda receberia em troca a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e a Primeira-Secretaria. À reportagem, Kassab negou a existência dessas negociações e afirmou que os senadores do partido "estão livres" para votar nos candidatos que desejarem.