BC só acha pouco mais de R$ 1 mil na conta de Maristela Temer

A Operação Lava Jato suspeita que parte do dinheiro foi lavado em reforma da residência de Maristela
Estadão Conteúdo
Publicado em 26/03/2019 às 14:20
A Operação Lava Jato suspeita que parte do dinheiro foi lavado em reforma da residência de Maristela Foto: Foto: AFP


O Banco Central (BC) encontrou R$ 1.217,15 na conta de Maristela Temer, filha do ex-presidente Michel Temer. O emedebista teve R$ 8,2 milhões confiscados por ordem do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, que deflagrou a Operação Descontaminação, desdobramento da Lava Jato. O magistrado havia ordenado o sequestro de R$ 3,208 milhões de Maristela e R$ 62 milhões do ex-presidente.

Temer é suspeito de liderar um esquema de corrupção há mais de 40 anos e de receber R$ 1 milhão em propinas das obras da usina de Angra 3. A Operação Lava Jato suspeita que parte do dinheiro foi lavado em reforma da residência de Maristela. A defesa de Temer nega que ele ou a filha tenham cometido qualquer irregularidade e classificou a prisão do ex-presidente como "uma barbaridade".

Temer foi preso na Quinta-feira passada, dia 21, quando saía de sua casa em São Paulo. Nesta segunda-feira, 25, o desembargador Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), mandou soltar o ex-presidente e todos os presos da Descontaminação. Temer deixou a prisão no Rio e retornou para sua residência em São Paulo, onde chegou no final da noite.

A investigação contra Temer e seus aliados é decorrente da Operação Radioatividade, que mirou um esquema de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de capitais e fraudes à licitação na construção da usina nuclear de Angra 3.

Supostos pagamentos ilícitos

A Descontaminação apura supostos pagamentos ilícitos feitos por determinação do empreiteiro José Antunes Sobrinho, ligado à Engevix, para "o grupo criminoso liderado por Michel Temer, bem como de possíveis desvios de recursos da Eletronuclear para empresas indicadas pelo referido grupo".

Segundo o Ministério Público Federal, a empresa Argeplan, do coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, "participou do consórcio da AF Consult LTD, vencedor da licitação para a obra da Usina Nuclear de Angra 3, apenas para repassar valores a Michel Temer".

A Procuradoria aponta que a AF Consult do Brasil e a Argeplan não tinham pessoal e expertise suficientes para a realização dos serviços, e, por isso, houve a subcontratação da Engevix.

No curso do contrato, destaca a investigação, o coronel Lima solicitou ao sócio da empresa Engevix o pagamento de propina em benefício de Michel Temer.

A Lava Jato relata que a propina foi paga no final de 2014 com transferências totalizando R$ 1,91 milhão da empresa da Alumi Publicidades para a empresa PDA Projeto e Direção Arquitetônica, controlada pelo coronel Lima.

Na decisão que mandou bloquear valores dos investigados da Descontaminação, Marcelo Bretas relatou que, segundo a Eletronuclear, "o valor original do contrato da usina nuclear de Angra 3 era de R$ 162.214.551,43 (março de 2011)". Foram pagos a Engevix R$ 30.777.701,49, à AF Consult Brasil, R$ 10.859.075,15, e à AF Consult, R$ 13.092.418,24.

"Presentes os pressupostos e as circunstâncias autorizadoras, determino o sequestro/arresto dos bens móveis e imóveis (medidas assecuratórias)", ordenou Bretas.

O magistrado mandou confiscar R$ 62.595.537,32 de Temer, do escritório Temer Advogados Associados e da empresa Tabapuã Investimentos e Participações - controlada pelo ex-presidente.

Na conta do escritório, o BC não encontrou valores. Já na conta da Tabapuã foram bloqueados R$ 491.889,14.

Marcelo Bretas ordenou um total de 40 confiscos de valores que variam entre R$ 2.182.951,00 e R$ 62.595.537,32.

O juiz autorizou "a Cooperação Internacional para o bloqueio dos valores no exterior, no montante de até R$ 23.901.101,30, mantido em nome de Ana Cristina da Silva Toniolo", filha do ex-presidente da Eletronuclear, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva.

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