Vice fala coisas que o presidente não quer falar, diz Mourão

Segundo Hamilton Mourão, também cabe ao vice atacar primeiro, quando é preciso atacar
Estadão Conteúdo
Publicado em 09/04/2019 às 21:15
Segundo Hamilton Mourão, também cabe ao vice atacar primeiro, quando é preciso atacar Foto: Foto: Romério Cunha/VPR


O vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou nesta terça-feira (9) que cabe a ele falar "coisas que o presidente não quer falar" e atacar primeiro, quando é preciso atacar. O papel de vice foi abordado por Mourão em evento em Washington, organizado pelo Brazil Institute, do 'think tank' Wilson Center. "Não é fácil ser vice-presidente, você é o segundo no comando. Você pode olhar para mim, você foi um general por 12 anos e comandava todo mundo. Bom, agora eu não comando", disse Mourão, que tem sido criticado com frequência por ala do governo por ter uma agenda independente e por vezes de contraponto à do presidente, Jair Bolsonaro.

Nesta terça-feira, contudo, o vice-presidente sugeriu que é sua função como vice-presidente assumir esse papel. "A primeira coisa é essa, você tem que ter disciplina intelectual para entender as necessidades do presidente. Eu olho para mim mesmo como uma figura complementar ao presidente. Coisas que ele não quer falar, me diga, ok, eu vou lá e falo. Às vezes eu digo para a imprensa que eu me sinto como o escudo e espada do presidente. Eu posso defender quando ele precisa ser defendido e posso atacar antes que ele precise", afirmou o vice-presidente.

Mourão foi apresentado por Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute, como uma "voz moderada" em Brasília. Em Washington, a agenda do vice-presidente incluiu pensadores de outros espectros políticos que não apenas a direita conservadora americana - foco que Bolsonaro deu a encontros feitos na capital americana, em março. Coube a Mourão, por exemplo, se reunir com imigrantes brasileiros em Boston depois de Bolsonaro ter precisado pedir desculpas por dizer, em entrevista a uma emissora de televisão americana, que a maioria dos imigrantes tem "más intenções".

O vice-presidente também teve encontros com personalidades que por vezes são críticas a Bolsonaro, como Mangabeira Unger, o ex-ministro e ex-guru do presidenciável Ciro Gomes (PDT). "Me vejo como uma forma de levar nosso jeito de pensar para diferentes pessoas da nossa sociedade. Falamos com investidores, sindicatos, líderes locais e assim convencemos todo mundo em ter confiança na gente e acreditar no que queremos fazer para o Brasil", afirmou Mourão. Segundo ele, a Constituição brasileira é "muito vaga" sobre as funções do vice-presidente. "Só diz que o vice existe para substituir o presidente e para receber missões especiais. Sempre que o presidente quiser me dar missões especiais, eu estarei pronto", afirmou.

A presença no Brazil Institute foi o último evento público de Mourão em Washington. Na capital dos Estados Unidos, ele se reuniu com o vice-presidente americano, Mike Pence, com senadores americanos, e personalidades como ex-embaixadores dos Estados Unidos no Brasil, além de ter comparecido a rodas de conversa privadas com empresários.

Ele voltou a ser questionado sobre o papel político dos militares e repetiu que os militares que estão no governo já não atuam mais nas Forças Armadas. "Nossas Forças Armadas não estão no governo. Temos gente que veio das forças armadas no governo e acho normal, porque Bolsonaro veio desse grupo. Quero assegurar muito claramente as Forças Armadas continuarão como estão e como estiveram desde o fim do regime militar em 1985 e nós recebemos a tarefa da população brasileira de governar pelos próximos quatro anos", disse Mourão.

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