''Ainda não caiu nenhum militar'', diz secretário nacional de segurança

Braço direito do ministro Sergio Moro, Guilherme Theophilo concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio
Felipe Vieira
Publicado em 21/05/2019 às 7:27
Braço direito do ministro Sergio Moro, Guilherme Theophilo concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio Foto: Foto: Bianca Souza/JC Imagem


O general da reserva Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, 64 anos, é o braço operacional, para a área de segurança, do ministro da Justiça, Sergio Moro. À frente da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) desde o início do governo Bolsonaro, tem no currículo atuação em combate na Colômbia contra as Farc, entre outras missões no exterior. No ano passado, candidatou-se a governador do Ceará, derrotado no primeiro turno por Camilo Santana (PT). Em entrevista exclusiva ao JC, ele fala das diretrizes de segurança da gestão, da polêmica – que ele considera “superada” – entre os militares e a ala ideológica do governo e reforça a importância da grife verde-oliva no Planalto.

Confira a entrevista

JORNAL DO COMMERCIO - O senhor é secretário nacional de segurança de um governo que foi eleito com o forte apelo de “colocar o País em ordem”. Que avaliação faz da relação entre o discurso de campanha e o que foi efetivamente entregue à população até agora?

GUILHERME THEOPHILO – Não sou eu quem faz, é a sociedade. Nós tivemos uma redução de 24% nos crimes violentos. Isso é um fato, não sou eu que estou dizendo. Essa análise fala tudo. Quando se esperava redução de 3% ou 2%, chegamos a 24%. Não é um trabalho isolado da Senasp, é de todos os governos estaduais e municipais. No Ceará, por exemplo, iniciamos o ano com uma crise violenta na segurança pública, e hoje o Estado tem os melhores índices do Brasil.

JC – O que essa gestão veio para fazer diferente? O que vai ser feito dessa vez que não foi de outras?

THEOPHILO –
 Não é só aumentar os efetivos das polícias Militar e Civil, armar mais e dar mais munição. Isso é importante, mas, por si só, não resolve. A grande diferença é o trabalho integrado com outros ministérios, na saúde, infraestrutura, nos direitos das mulheres, direitos humanos. Todo esse conjunto é que vai resultar em um povo mais educado, mais consciente, com mais cultura, sabendo que não pode jogar lixo no chão, que droga não leva a nada (apenas à morte). A diferença é essa: integração.

JC – Justamente pelo fato de o governo ter sido eleito com um discurso mais contundente no combate ao crime, esperava-se alguma resistência de alguns setores. Elas existem? Se sim, quais seriam?

THEOPHILO – Não há dados que deixem o governo Bolsonaro em situação difícil. O que há é uma oposição que quer porque quer não perder o poder, que usa de artifícios como asfake news e quer implantar intriga entre o presidente e o vice-presidente, entre os generais e Olavo de Carvalho. Isso só existe na cabeça da imprensa, porque presencio as reuniões ministeriais e vejo intimidade e brincadeira entre o presidente e o vice. Até porque somos, os três, contemporâneos. Somos da mesma arma, somos paraquedistas, servimos os três juntos como tenentes no Rio de Janeiro. Então, não há como não termos irmandade e confiança um no outro. O que está havendo aí é fofoca, é fake. Os ministérios estão integrados e os objetivos estão sendo alcançados. É lógico que sabemos que, economicamente, o País está quebrado. Mas estamos batalhando pela reforma da Previdência, pelo projeto anticrime do ministro (Sergio) Moro. Tudo isso faz parte desse conjunto para melhorar nosso país.

JC – Então o senhor vê, hoje, esse episódio dos militares como superado...

THEOPHILO – Totalmente. Não existe isso. O ministro Santos Cruz (Secretaria de Governo) está prestigiado. Não existe essa ideia de que ele vai cair. Toda hora “cai” um ministro militar, e até agora, de verdade, não caiu nenhum. Tivemos alguns civis, sim, que foram substituídos porque o presidente resolveu, mas os militares, como o general (Augusto) Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Santos Cruz, Floriano Peixoto (Secretaria Geral da Presidência), Fernando (Azevedo) na Defesa, estão todos muito bem, todos com seus objetivos sendo alcançados conforme planejado.

JC – O senhor diz que não é possível vencer a guerra urbana (do tráfico) se não for vencida a guerra na fronteira (entrada de drogas e de armas). O que fazer para conquistar a fronteira?

THEOPHILO – Já estamos com um projeto de integração chamado Fronteira Mais Segura. O grande gestor desse projeto é o delegado Rosalvo (Franco), da Secretaria de Operações Integradas, e estamos com o primeiro Fusion Center, em Foz do Iguaçu, onde 16 órgãos de segurança vão trabalhar juntos no mesmo prédio. Depois, vamos para o Norte com outros Fusion Centers, integrando as Polícias Federal e Rodoviária Federal,Forças Armadas junto com o Sisfron (Sistema de Vigilância e Monitoramento das Fronteiras), inclusive com a possível criação de uma polícia especial de fronteira, que seria um desdobramento da futura Guarda Nacional, que, por sua vez, seria a institucionalização da Força Nacional.

JC – Qual sua visão sobre a polêmica em torno dos decretos presidenciais sobre posse e porte de armas de fogo?

THEOPHILO – Não é minha área de atuação dentro do governo, mas, por ter experiência como comandante logístico do Exército até o ano passado, posso dizer que, primeiramente, tem a questão dos CAC (colecionadores, atiradores e caçadores), que ansiavam pela liberação para praticar o esporte com segurança. São pessoas idôneas, que vão ao estande de tiro, que sabem manusear uma arma. Não está se liberando arma para qualquer um. A reboque disso veio o pedido dos legislativos, professores e até alguns jornalistas. Isso pode até ser questionado, mas foi a sociedade que pediu. Ela está praticamente exigindo do presidente, pois foi uma promessa de campanha. Então, novamente a oposição está batendo firme. Estamos estudando, alguma coisa pode ser retirada, mas vamos seguir no melhor sentido para atender a essas reivindicações.

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