PSB sugere autocrítica ao PT sobre erros da esquerda

O ''conselho'' consta no documento Autorreforma do PSB - Subsídios para Elaboração do Programa Partidário, que está sendo debatido no Rio de Janeiro
Mirella Araújo e Luisa Farias
Publicado em 28/11/2019 às 15:53
O ''conselho'' consta no documento Autorreforma do PSB - Subsídios para Elaboração do Programa Partidário, que está sendo debatido no Rio de Janeiro Foto: Foto: Humberto Pradera/Divulgação


Se por um lado o ex-presidente Lula (PT) declara que o PT não precisa fazer autocrítica. Por outro, o PSB defende que toda a esquerda faça essa reflexão à respeito da crise política instaurada no País, a partir de 2013, que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. E mais: afirma que esse exercício deve começar pelo próprio Partido dos Trabalhadores. O “conselho” consta em documento – ao qual o JC teve acesso – que será apresentado nesta quinta-feira (28), durante o debate público do partido, chamado de “Autorreforma – Brasil, um passo adiante”, no Rio de Janeiro. O evento contará com a presença de cerca de 300 dirigentes, entre eles o governador de Pernambuco e primeiro presidente da sigla, Paulo Câmara.

No documento, intitulado de “Autorreforma do PSB – Subsídios para Elaboração do Programa Partidário (Provocação ao Debate)”, os socialistas afirmam que os erros da esquerda (PT, PDT, PCdoB e PSB) devem ser identificados. “Especialmente pelo PT, partido hegemônico no conjunto, que teve papel preponderante. De partida, uma vez no poder, trouxe para o núcleo duro de seus governos não os parceiros de empreitada da construção da democracia, mas o PMDB e agremiações que hoje estão no Centrão”, traz um dos trechos.

“A tragédia que essa escolha representou, se vê, ainda hoje, pelas consequências de um modo de fazer política que nada tem a ver com as práticas da esquerda, e que nos tomou uma hegemonia até então inconteste no campo da probidade, da lisura, e do respeito aos princípios da administração pública”, afirma o PSB em outro ponto. Ainda segundo o texto, foi essa conjuntura que “permitiu a ultradireita/direita assumir uma linguagem ‘revolucionária’”. Em entrevista ao JC, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, não citou nominalmente o ex-presidente Lula e o PT, mas afirmou que a autocrítica deveria ser um papel de todos os partidos e políticos. “Nós só podemos decidir sobre o PSB. O que aconteceu em 2018, como ápice dessa crise, precisa ser repensado. Mas cada um decide o que quer fazer. Não podemos obrigar ninguém a fazer autocrítica e autorreforma. Não existe democracia sem partidos políticos sólidos”, disparou.

Para o presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, o resultado das urnas em 2018, que elegeu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), é uma mostra da necessidade de apresentar novas propostas à sociedade, modernizando e reinventando os partidos de esquerda. Em relação à autocrítica sugerida pelo documento da Executiva Nacional, Guedes preferiu não relacionar esse posicionamento a um possível desconforto com os petistas. “Nós do PSB sempre achamos que a autocrítica e a permanente avaliação é oportuna. Em 2018 fomos todos derrotados, as ideias da esquerda como um todo foram rejeitadas. Mas a nossa autorreforma vai para além disso, ela aponta para o futuro”, afirmou.

Segundo o socialista, como o manifesto partidário do PSB data da década de 1940, existem pontos que precisam ser atualizados. “Esse movimento é inovador, no que diz respeito à vida partidária do País. Não estamos mudando de cor, nome ou sigla, estamos fazendo um movimento por dentro para reafirmar nossos valores”, pontuou.
Em Pernambuco, PSB e PT voltaram a firmar uma aliança nas eleições de 2018, que culminaram nas reeleições de Paulo Câmara para o governo do Estado e de Humberto Costa (PT) para o Senado Federal. Os dois partidos fizeram acordos em vários Estados, incluindo Pernambuco, onde a candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo estadual foi retirada. Em nível nacional, o PSB se manteve neutro quanto às eleições presidenciais.

ROMPIMENTO

Os partidos romperam em 2013 – ano em que o PSB cita como o início da crise política no País – após dez anos de aliança. Em 2014, o ex-governador Eduardo Campos lançou-se candidato à Presidência da República. Dois anos depois, em 2016, a bancada socialista no Congresso Nacional votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
No cenário para as eleições municipais de 2020, o nome de Marília, agora deputada federal, é cotado para disputar a Prefeitura do Recife, ao mesmo tempo em que o também deputado João Campos (PSB) é o principal no PSB para concorrer à sucessão do prefeito Geraldo Julio (PSB).

Questionado se as críticas socialistas ao PT podem respingar na aliança no Estado, o presidente eleito do PT-PE e deputado estadual Doriel Barros minimizou a questão. O petista disse esperar que elas tenham ocorrido no sentido de “fazer com que a esquerda consiga ainda mais na luta política”. Ele lembra que no Congresso do PT, no fim de semana passado, houve um debate em torno do fato dele ser um partido que “vai sofrer algumas críticas” por ter governado o País por tanto tempo. “Poderíamos ter feito mais, é verdade, até algumas decisões que a gente terminou não tomando em relação a algumas reformas, mas o partido se orgulha de tudo que fez, tem clareza de que contribuiu muito para melhorar a vida do povo brasileiro e que, portanto, está preparado para continuar defendendo o seu legado”, afirmou.

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