Cláudio Humberto*
O destaque desproporcional para o compartilhamento, pelo presidente Jair Bolsonaro, de um vídeo que o bajula e que nem sequer menciona o Congresso, atende à conveniência da elite política de Brasília de não apurar as razões de importante ministro ao revelar que o governo tem sido chantageado por parlamentares. De quebra, ainda tenta emplacar algo como o “impeachment da vingança”. Em conversa vazada, o general Augusto Heleno disse que não dava para aceitar “esses caras chantagearem a gente o tempo todo”. Ninguém se interessou pela gravíssima revelação sobre as “insaciáveis reivindicações de parlamentares por fatias do orçamento impositivo”. Em vez de apurar a denúncia, aplaudiram o ataque de Rodrigo Maia a Heleno. De Roberto “é dando que se recebe” Cardoso Alves aos dias atuais, o Congresso tem histórico de emparedar governos para obter vantagens.
Em um dia cheio de problemas graves, como a confirmação do primeiro caso de coronavírus no País, e a tentativa de caracterizar um suposto “ataque” de Bolsonaro ao Congresso, os deputados – a começar pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia – gazetearam o trabalho. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também não deu as caras. Ele e Maia costumam chamar de “ataque à democracia” qualquer crítica à agenda malandra, desde 2016, com a semana de dois dias de trabalho. Somente dois deputados apareceram para trabalhar na quarta-feira de cinzas: Marcel Van Hattem (Novo-RS) e general Peternelli (PSL-SP). Como os parlamentares, a maioria dos servidores do Congresso não foi vista trabalhando. Foram contaminados pela malandragem da chefia. As dependências da Câmara estavam tomadas, mas não de deputados ou de servidores: eram turistas usando bermudas e chinelos.
As investigações contra servidores “fantasma” dão esperança de moralização a quem trabalha na Câmara. “Será que vai mudar alguma coisa?”, perguntou um servidor esperançoso, coitado.
*Cláudio Humberto assina coluna diária no Jornal do Commercio
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