Quem vê o doce sorriso de Dona Elzita Santa Cruz pode não imaginar a dor de sua perda e a luta que travou durante anos para preservar a memória e da verdade do País. Amanhã (14), a mãe do desaparecido político Fernando Augusto de Santa Cruz celebra 100 anos de vida, ainda sem resposta para a pergunta que fez ao longo dos anos: onde está meu filho? Há dez meses, suas lembranças estão mais distantes, mas a memória preservou uma poesia. “Hei de vê-lo voltar, ela dizia, o meu doce consolo, o meu filhinho. Passam-se anos, e o véu do esquecimento baixando sobre as coisas tudo apaga. Menos da mãe, no triste isolamento, a saudade que o coração lhe esmaga”, recita, com os olhos embargados.
A comemoração do centenário será na Igreja do Carmo, em Olinda, às 19h. O arcebispo Dom Fernando Saburido celebrará uma missa em Ação de Graças aberta aos familiares, amigos e admiradores.
A ditadura militar, em 1964, foi determinante para a vida de Dona Elzita. A repressão, além de tirar a vida do seu filho Fernando, prendeu e torturou sua filha mais velha, Rosalina, e cassou seu filho Marcelo Santa Cruz, que ficou exilado na Europa. Dona Elzita percorreu prisões e unidades militares, enviou cartas aos ministros de Estado e presidentes da República, solicitou ajuda da Anistia Internacional e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
A postura afirmativa de Dona Elzita foi consolidada a partir da perseguição sofrida por seus filhos. No passado, o respeito pelo pai, João Santos, senhor de engenho, não a impediu de entrar em confronto com ele quando tomava decisões que não correspondiam aos seus anseios.