Prédio da Sudene vai ser tombado

Edifício foi inaugurado pelo presidente-general Emílio Garrastazu Médici. Processo de tombamento inclui os jardins do arquiteto e paisagista Burle Marx
Ayrton Maciel
Publicado em 04/01/2014 às 5:50
Edifício foi inaugurado pelo presidente-general Emílio Garrastazu Médici. Processo de tombamento inclui os jardins do arquiteto e paisagista Burle Marx Foto: JC Imagem


Inaugurado em 28 de janeiro de 1974, auge da ditadura de 64, pelo general-presidente Emílio Garrastazu Médici, o edifício-sede da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), na Cidade Universitária, Recife, vai ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), juntamente com os jardins do arquiteto e paisagista Burle Marx que rodeiam o prédio da autarquia.

O atual superintende da Sudene, Luiz Gonzaga Paes Landim, do Piauí, determinou o levantamento das informações e dados da construção do projeto arquitetônico e de engenharia, que vão respaldar o pedido de tombamento ao Iphan. O edifício-sede foi erguido de forma a transmitir a sensação de imponência da economia e fortalecer a imagem de desenvolvimento do regime militar.

Ocioso desde o esvaziamento e extinção da Sudene, em 2001, após sucessivos escândalos, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – a instituição foi recriada pelo ex-presidente Lula (PT), em 2003, mas sem o poder anterior – o prédio é uma construção executada pelo Grupo de Trabalho Projeto Sede (GTPS), constituído pelo órgão e subordinado ao seu Departamento de Administração Geral, que tinha como chefe – no início dos anos 70 do século passado – pelo coronel Luiz Coelho de Lira.

O prédio foi construído em terreno doado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em área aterrada de 75 mil metros cúbicos, e visava também – já naquela época – fugir do trânsito de veículos do Centro do Recife, gerado pelo aumento da população, uma vez que a sede inicial ficava no antigo prédio do INPS, na Avenida Dantas Barreto.

De arquitetura moderna para a época, o edifício foi levantado pelo GTPS, que tinha coordenação do engenheiro Pedro Gorgônio da Nóbrega Filho e era constituído pelos também engenheiros Mário de Moraes Rêgo e Valério de Mello Costa Oliveira, mais os arquitetos – que elaboraram o projeto – Pierre Reithler, Ricardo Couceiro, Paulo Roberto de Barros e Silva e Maurício do Passo Castro.

O cálculo estrutural das obras foi feito pelos engenheiros-professores Eleumar Martorelli e José Moacyr Lins de Albuquerque, porém a construção contou com mais de 20 empresas, desde estrutura, instalações, montagem, acabamento e fiscalização. O edifício-sede está unido por dois prédios que abrigam as unidades do Conselho Deliberativo e da Documentação, para 100 mil volumes, mais serviços e a infra-estrutura.

Para ampliar a imponência aparente do regime, a Sudene contratou o escritório paulista Burle Marx & Cia Ltda, do maior paisagista brasileiro, Roberto Burle Marx (1909-1994). O arquiteto foi o autor do primeiro projeto de jardim público, o da Praça de Casa Forte, no Recife, em 1934, ano em que também assumiu a diretoria de Parques e Jardins do Departamento de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco.

Em 1935, projetou a Praça Euclides da Cunha, a Praça do Internacional, na Madalena, e em 1937 tinha idealizado o primeiro Parque Ecológico de Recife. Os jardins de Burle Marx, em volta do prédio da Sudene, são uma representação da flora do semiárido nordestino. A mesma inspiração que teve, nos anos 30, ao plantar exemplares da caatinga do Sertão nordestino, descartando os jardins de inspiração europeia.

O tombamento do prédio-sede e dos jardins da Sudene será feito junto ao Iphan, autarquia vinculada ao Ministério da Cultura e que é responsável pela preservação do acervo patrimonial do País. O tombamento de bens históricos e culturais é um ato de reconhecimento do valor patrimonial (material ou imaterial) que transforma em patrimônio oficial determinado bem e institui um regime jurídico especial para sua proteção.

O termo tombamento é uma derivação da Torre do Tombo, antigo arquivo público português que guardava e conservava documentos históricos e importantes de Portugal.

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