A histórica 25ª Reunião Extraordinária do Conselho de Desenvolvimento da Sudene, de 6 de junho de 1970, não está restrita ao discurso surpreendente do general Emílio Garrastazu Médici. Sob um regime que não hesitava em cassar (também) políticos incômodos – o País estava submetido ao rigor do Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, que suprimiu os direitos políticos e civis –, o governador de Pernambuco, Nilo Coelho ousou acusar a existência de boicote e uma tentativa permanente de esvaziar a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, financeira e administrativamente.
“Os instrumentos de que se dotou a Sudene foram perdendo, paulatinamente, substância e alcance, à medida que a administração federal veio desenvolvendo, a nível central, novas formulações administrativas e novas políticas econômicas para o seu próprio desempenho”, afirmou.
A ata transcreve o discurso de Nilo Coelho recheado de protestos e pedidos a Médici no sentido de não permitir o enfraquecimento da Sudene. “Os incentivos fiscais têm sido alvo permanente de ataques daqueles que não querem ver um País igualmente desenvolvido e, por conseguinte, liberto dos estigmas das disparidades regionais. Trata-se de uma trama obstinada contra a terra e o homem do Nordeste”, define.
Diante de todos os governadores do Nordeste, que prestigiaram a presença do general-presidente, mais o representante do governo de Minas Gerais, todos da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime militar, Nilo denuncia a “retirada da capacidade de ação da Sudene” e reconhece a existência de “forças negativas” que pretendiam preservar “o Velho Nordeste”, sem identificar ou apontar, no entanto, quais eram essas forças.
Ao final do duro e aplaudido discurso, Nilo reivindica de Médici o fortalecimento da Sudene como instituição de planejamento e financiamento de projetos. “Em 1966, o orçamento era de cerca de 180 milhões de cruzeiros, enquanto para o corrente ano de 1970 foram-lhe apenas reservados 136 milhões de cruzeiros”, revela o governador. À época, o regime vivia o auge do “milagre econômico” dos governos militares.
Apesar do discurso ácido, Nilo não deixou de afagar o ego do presidente Médici. O trecho de abertura dizia da humilhação do cenário desolador da seca: “A honra insigne de receber o irmão-presidente faz-nos reunir os saldos de energia para não estampar o desespero no semblante”.