Queda de avião de Eduardo Campos pode ser culpa da fabricante da aeronave

Famílias dos pilotos denunciam falha e já abriram processo contra a Cessna nos Estados Unidos
Mariana Mesquita
Publicado em 05/08/2015 às 10:59
Famílias dos pilotos denunciam falha e já abriram processo contra a Cessna nos Estados Unidos Foto: Foto: AFP PHOTO/Ricardo Nogueira


A família do ex-governador Eduardo Campos dá cada vez mais sinais de acreditar na hipótese de que a causa da tragédia foi um erro de projeto do avião Cessna, embora ressalte que vai esperar pelos resultados finais das investigações do acidente aéreo que vitimou Eduardo e outros seis tripulantes, há quase um ano. “Estou convencido de que esta foi a causa determinante do acidente”, escreveu o irmão de Eduardo, Antônio Campos, num texto publicado em seu blog na última segunda (03). Ele citou ainda os “precedentes de problemas idênticos com outras aeronaves semelhantes”.

A opinião condiz com o que foi veiculado na manhã de hoje (05) pelo site de informações G1, que divulgou uma carta de Flávia Martins (esposa do piloto Marcos, que dirigia a aeronave). Com base na opinião de consultores, Flávia afirma que todos os modelos da família Cessna 560 Citation EXCEL apresentam uma “falha de previsão no projeto, mais especificamente nos estabilizadores horizontais”. 

O estabilizador é a peça responsável por apontar o sentido em que o “nariz” da aeronave deve ficar durante o vôo. Neste modelo, quando a velocidade está acima de 200 nós (cerca de 400 km/h) e os flaps (superfícies de sustentação das asas) são recolhidos, o estabilizador causa uma tendência de levar o “nariz” para baixo, na mesma posição em que o avião estava em relação ao solo, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

O documento produzido por Flávia tem 16 páginas e foi enviado ao Brigadeiro Dilton José Schuck, chefe do Cenipa, no início de julho. A previsão é de que o órgão emita uma nota oficial sobre o andamento da investigação ainda esta semana. Na última coletiva de imprensa concedida pelo Cenipa, em janeiro, foi informado que os pilotos estariam acelerando o avião em direção ao solo, seguindo um “trajeto diferente” do previsto na carta de navegação. Na época, os responsáveis pela análise disseram que ainda não tinham condições de concluir se houve erro dos pilotos ou falha técnica da aeronave.

FALHA NO PROJETO DO AVIÃO TERIA CAUSADO OUTROS ACIDENTES

A tese na falha de previsão do projeto teria sido levantada pelo especialista em acidentes aéreos Carlos Camacho, que atuou como piloto por 38 anos e atuou como consultor da família Martins. Flávia cita dois outros casos no documento encaminhado ao Cenipa: um incidente aéreo que ocorreu em 2 de dezembro de 2002, na Suíça, e outro que atingiu uma aeronave que voava de Manaus para Orlando, nos Estados Unidos.

De acordo com a tese de Flávia, esses dois incidentes teriam a mesma causa do acidente com o avião de Eduardo Campos. A hipótese é reforçada pelo professor de Aerodinâmica da Escola Politécnica, Julio Romano Meneghini, que confirmou ao G1 que o fenômeno apontado pelos parentes dos pilotos seria uma característica dessa família da aeronave Cessna.

BUSCA PELA RESPONSABILIDADE E POR INDENIZAÇÂO

As famílias do piloto Marcos Martins e do co-piloto Geraldo Magela já abriram processo contra a fabricante Cessna, nos Estados Unidos, através do escritório americano PodHurst, que é especialista em acidentes aéreos. Cogita-se que a empresa deve propor um acordo, o que representa um reconhecimento de culpa, e provavelmente vai ser obrigada a mudar alguns itens do projeto do avião. 

Caso seja comprovado que a culpa do acidente foi uma falha na aeronave, deve haver também uma reviravolta na responsabilização pelas indenizações às vítimas do acidente (tanto os mortos na tragédia, como as famílias de moradores e comerciantes que foram prejudicados com a queda da aeronave).

Em setembro, Antônio Campos já havia pedido ao Ministério Público que intercedesse no caso, a fim de que a Cessna, as seguradoras do avião e a União fizessem a imediata reparação dos danos terrestres e pagamento dos seguros das vítimas.

Desde dezembro, o empresário pernambucano João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, um dos donos da aeronave, vinha tentando negociar, de forma extrajudicial, formas de compensar os estragos causados pelo acidente. Na época, o empresário declarou que estaria assumindo os prejuízos antes dos resultados finais das investigações, para depois ir atrás dos eventuais responsáveis pelo acidente.

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