Uber é uma palavra alemã que significa “super”, e é utilizada no segmento da moda para se referir a modelos como Gisele Bündchen, salientando sua superioridade em relação às concorrentes. O termo também é usado para nomear um aplicativo de celular que tem causado muita polêmica em todo o mundo, e que mesmo sem ter chegado a funcionar em Pernambuco, já está proibido em Jaboatão e em vias de ser vetado em Olinda e no Recife, atendendo ao forte lobby dos taxistas pernambucanos.
O serviço foi lançado no Brasil no ano passado, em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, e intermedeia corridas entre clientes cadastrados e motoristas particulares que oferecem carros e serviços premium, numa espécie de “carona paga” e sem taxímetro. O problema é que o Uber infringe a lei federal que regulamenta a profissão de taxista, e a categoria está se organizando, em todo o País, para defender a reserva de seu mercado e combater o que consideram ser transporte clandestino e concorrência desleal.
“Se isso for implantado, vai tirar a receita dos que trabalham e pagam seus impostos. O Uber está sendo combatido em todo lugar e aqui não será diferente”, avisa o presidente do Sindicato dos Taxistas de Pernambuco, Everaldo Menezes, para quem não há necessidade de ampliar a oferta local, já que no Recife haveria “frota renovada e bons serviços”.
Em agosto, o aplicativo foi proibido em Jaboatão, através de projeto de lei do vereador Manoel Neco (PSC). A proposta de Jorge Federal (PMDB) deve ser votada no início desta semana e também prevê o veto ao Uber em Olinda. No último dia 9, Isabella de Roldão (PDT) promoveu uma audiência pública para discutir o tema, na Câmara Municipal do Recife, mas ainda não há previsão de quando o projeto de lei será votado na Casa.
A vereadora fez várias críticas à ausência da Prefeitura do Recife nesse processo de discussão. Consultada sobre o tema, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) enviou uma nota ao JC informando que “como não há registros da utilização do aplicativo no município, o assunto ainda não está na pauta da gestão de trânsito”.
Presente na reunião da última quarta, o vice-presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação de Pernambuco (Assespro-PE), Alcides Pires, afirma que o problema maior é o econômico. “O Uber beneficia a maioria da população, mas é uma plataforma que ameaça, em especial, os donos de frotas que acumulam diversas licenças, ou ‘praças’ como costumam falar, e pode beneficiar aqueles que arrendam táxis. As novas tecnologias sempre enfrentam resistência, mas os avanços são inevitáveis e não há como controlar nem proibir”, aponta. Ele considera, porém, que é preciso regulamentar o serviço e que não é certo que o poder público faça exigências apenas aos taxistas.
POLÊMICO NO MUNDO INTEIRO
O Uber foi criado em 2010, nos Estados Unidos, e já se espalhou por 60 países, tendo valor de mercado estimado em mais de US$ 40 bilhões. As corridas realizadas por meio do serviço, no exterior, chegam a custar metade do valor pago num mesmo percurso de táxi convencional – por isso, a adesão dos passageiros tem sido proporcional à insatisfação dos taxistas.
O aplicativo já foi proibido na Alemanha, na Espanha, na Tailândia e na Índia, e está em vias de ser vetado completamente na França, na Itália e em Portugal, onde apesar das ordens judiciais segue funcionando. Na França, dois dirigentes do Uber foram presos por remunerar motoristas não-profissionais.
Há acusações de falta de segurança no serviço, sendo que a Índia traz o exemplo mais grave: um condutor, previamente condenado criminalmente por abuso sexual, ainda assim obteve licença para dirigir e estuprou uma passageira. Por enquanto, o Uber segue funcionando no Brasil, mas a julgar pelo lobby dos taxistas, a tendência é de que seja completamente proibido. O JC tentou falar com o porta-voz da empresa no País, Fábio Sabba, mas ele preferiu não se pronunciar.