A partir desta semana caberá a Michel Temer (PMDB), durante os 180 dias em que Dilma Rousseff (PT) estiver afastada do posto de chefe da nação, conduzir o Brasil. A seu favor, o peemedebista contará, de largada, com o apoio da maioria do Congresso. Mas os desafios não são poucos, a começar pelo tempo reduzido que terá para dar respostas a diversos setores da sociedade. De um lado, a parcela da população que torceu pela queda de Dilma aguarda ansiosa por novos rumos. Do outro, haverá críticas e cobranças da parte de quem não concorda com a ascensão de Temer à presidência da República.
Na opinião do cientista político Márcio Coimbra, do Ibmec do Distrito Federal, Temer precisa dar uma atenção especial à área econômica se quiser deixar uma marca administrativa e sobreviver politicamente. “O maior desafio dele será a economia porque é ela que impacta diretamente na vida das pessoas e tem reflexos da geração de emprego ao aumento da violência. Com a chegada de Temer ao poder, o mercado já deve sinalizar positivamente, mas isso deve durar até as duas primeiras semanas. Depois, ele terá que mostrar medidas concretas de racionalidade econômica”, avalia.
Por tais medidas, entenda-se, a realização do ajuste fiscal que Dilma não conseguiu empreender. “A situação macroeconômica do País está muito ruim. Ele vai ter que fazer um ajuste fiscal entre R$ 200 bilhões e R$ 250 bilhões. São medidas amargas e é algo que não vai ser feito do dia para a noite. Temer não vai poder vir com uma tesourinha de unha, mas terá que usar uma tesoura de jardineiro. Esse ajuste não vai ocorrer sem uma gota de imposto, mas ele precisa ter em mente que não pode sacrificar os brasileiros que têm renda mais baixa. Que tente poupar essa parte da sociedade”, opina o economista e professor de Finanças do Ibmec do Rio de Janeiro, Alexandre Espírito Santo.
A expectativa criada em torno da saída de Dilma também pode ser nociva a Temer. “Para uma parte da sociedade, com Temer na Presidência, um novo mundo vai se abrir e os problemas vão desaparecer. Mas não é assim. Para resolver uma crise fiscal sem precedentes decorrente de uma política de terra arrasada, ele terá que aumentar os impostos e cortar gastos ou diminuir benefícios sociais. Isso pode colocá-lo em litígio com parte da população. Temer pode ir da lua de mel direto para o divórcio”, analisa Rogério Baptistini, cientista político do Mackenzie.
Leitura parecida tem Humberto Cruz, professor de Orçamento e Contabilidade Pública da Faculdade Guararapes. “Ele vai ter um limite na estratégia de cortes de gastos e ministérios pela necessidade de atender à base com a nomeação de cargos públicos. E quando ele chegar nesse limite, o outro olhar dele deve ser na direção de reduzir os gastos sociais”, projeta.
O economista Jorge Jatobá, diretor da consultoria Ceplan, tem outra visão sobre a destinação de recursos para projetos sociais. “Acho que não compromete o ajuste fiscal. Eles são absolutamente baratos, principalmente o Bolsa Família, que tem um universo muito focado. É claro que eles sempre podem ser melhorados. Mas tem outros programas que eu revisaria. O abono salarial, por exemplo, que não atinge os mais pobres”, diz.
Já o consultor econômico Raul Velloso crê que, apesar de dar sinalizações para o mercado, Temer deve evitar grandes choques por ser um governo de transição. “Ele não tem como fazer um grande ajuste em um governo de dois anos. Ele vai fazer aquilo o que der para fazer dentro das condições que ele herdou. E vai tentar encaminhar um processo de reforma, principalmente da previdência”, explica.
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