Em 2015, no início da crise no governo Dilma Rousseff (PT), o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) defendia renúncia dela e de Michel Temer (PMDB) para realização de uma nova eleição no País. Dois anos depois, o senador diz ao JC que a cassação de Temer seria um período muito difícil para o País. Mas defende: não se pode tolher a Justiça.
JORNAL DO COMMERCIO - Que impacto terá para o País essa definição do TSE e a possibilidade de se cassar uma chapa presidencial?
CRISTOVAM BUARQUE - Eu não emito juízo sobre a decisão. Qualquer que ela seja, vamos ter que respeitar. E eu acredito que ela sairá comprometida com a Lei e com todo o rigor. Sendo assim, temos que estar preparados para tudo. Se vier a cassação, de fato, nós vamos atravessar um período muito difícil. Nem tanto pela substituição do presidente. Mas pela substituição das autoridades econômicas. E no Brasil, nos acostumamos que o presidente do Banco Central muda com o governo, ainda não tem mandato. E aí, podemos ter mudanças na autoridade monetária. Isso será um desastre para o Brasil. Mas se a Justiça achar que tem que ser feito, teremos que enfrentar. Não podemos tolher a Justiça.
JC - Eventualmente tendo uma cassação, nós teríamos uma eleição indireta com o Congresso nesse momento onde há a possibilidade de tantas pessoas serem alvos de processos. Esse é o momento ideal para se ter uma eleição indireta?
CRISTOVAM - Isso é a Justiça que vai determinar. Mas é o momento menos oportuno para que isso aconteça. Se tivesse acontecido dois anos atrás, no começo do governo Dilma, teria sido até positivo para o Brasil fazer uma eleição nova. Porque seria direta, em 90 dias, a crise não estava tão grave. O que acontece hoje é que a gente está encontrando um rumo. Interromper isso provavelmente será um desastre completo para a economia. Mas a gente pode imaginar que o presidente que seja escolhido mantenha todas essas pessoas, não mude nada do ministério. Quanto ao Congresso escolher, eu estou de acordo que um dos nossos problemas maiores é a falta de credibilidade do presidente Temer por não ter sido eleito diretamente. Imagine ser eleito explicitamente de forma indireta? Porque o Temer eu posso dizer que teve 56 milhões de votos indiretos. O próximo seria escolhido indiretamente por 400. Ninguém vai ter mais do que isso (de votos). Então vai ser um período muito complicado para o Brasil.
JC - E o senhor acha que a gente está caminhando para isso?
CRISTOVAM - Não sei. Sinceramente, hoje eu não sei se haveria a cassação ou não da chapa. Não conheço o que está por debaixo dos autos.
JC - O ministro Gilmar Mendes (presidente do Tribunal Superior Eleitoral) disse que no caso de uma cassação, o presidente Michel Temer poderia ser o candidato. O senhor tem esse mesmo entendimento?
CRISTOVAM - Aí é uma interpretação jurídica. Então, eu não sei. Eu reservo muito esse espaço jurídico para eles. Sou radicalmente contra a promiscuidade de político se meter na Justiça e a Justiça se meter na política. Acho muito ruim. Respeito a opinião do Gilmar, mas não sei se os outros dirão o mesmo. Do ponto de vista lógico, de fato, na Constituição, não tem nada que impeça.