Petrobras e Eletrobras tiveram os seus preços de mercado aumentados

Levantamento da Economática mostra que ambas estatais estão valendo mais, comparando fevereiro de 2016 com o mesmo mês de 2018
Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 10/03/2018 às 14:15
Levantamento da Economática mostra que ambas estatais estão valendo mais, comparando fevereiro de 2016 com o mesmo mês de 2018 Foto: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem


As duas gigantes estatais do setor energético – a Petrobras e a Eletrobras – tiveram uma grande valorização dos seus preços de mercado nos últimos dois anos. A Eletrobras saiu de um valor de mercado de R$ 8,6 bilhões em fevereiro de 2016 para R$ 34,05 bilhões em fevereiro último, enquanto a Petrobras estava com o seu valor estimado em R$ 78,5 bilhões (também há dois anos) e pulou para R$ 214,6 bilhões no mês passado, segundo um levantamento feito pela empresa de informações financeiras Economática.

A Eletrobras quase quadruplicou o seu valor de mercado, enquanto a Petrobras teve um crescimento de 272% do seu valor de mercado. “Nenhum fator isolado justifica um aumento nessa proporção. As duas estatais passaram por um processo de reestruturação – com a mudança da gestão – e também foram beneficiadas pelo reaquecimento da economia mundial, que contribuiu para a valorização de mercado de todas as empresas que têm ações bolsas, entre outras coisas”, resume o consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Energia, Paulo Cunha.

Para ilustrar os fatores comuns que contribuíram para a valorização de mercado de ambas, é bom lembrar que o indicador de desempenho médio das ações das empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) saiu de 38,5 mil pontos em fevereiro de 2016 para 87 mil pontos em fevereiro último. “Há uma recuperação significativa das grandes empresas no Brasil, inclusive com outras que tiveram até maior crescimento de mercado do que a Petrobras e Eletrobras”, afirma o gerente de Relações Institucionais da Economática, Einar Ribeiro.

Além da valorização em bolsa, ambas as empresas são controladas pelo governo federal e tiveram mudança na gestão depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). No governo de Michel Temer (MDB), as presidências de Petrobras e Eletrobras passaram a ser ocupadas, respectivamente, por Pedro Parente, um executivo respeitado no mercado, e por Wilson Ferreira Júnior, que passou muitos anos como um dos principais executivos da Companhia Paulista Força e Luz (CPFL), empresa reconhecida no setor de energia pelo seu modelo de governança.
Na nova gestão, a Petrobras vendeu alguns ativos, como uma empresa de gasodutos chamada Nova Transportadora do Sudeste (NTS), reduziu as dívidas, melhorando a situação financeira da empresa, repercutindo diretamente no seu valor de mercado.

Sancionada em junho de 2016, a lei das estatais também dificultou o acesso de pessoas sem capacitação em cargos de direção, segundo um ex-diretor de uma das estatais (ver matéria ao lado).
Com relação à Petrobras, o baixo preço de mercado da estatal, há dois anos, refletia as perdas de receita pelo governo ter decidido não repassar a alta internacional do preço do petróleo para o consumidor final no preço da gasolina e do diesel e também a corrupção. “Só no primeiro governo de Dilma, a venda de gasolina e diesel com preço mais barato do que o de mercado provocou perdas estimadas em US$ 40 bilhões (cerca de R$ 130, 4 bilhões) à Petrobras, sem contar os outros projetos políticos-eleitoreiros em que a estatal perdeu dinheiro”, diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Ele estava se refere ao período de 2011 a 2014.

Na administração anterior, a corrupção também contribuiu para baixar o valor de mercado da Petrobras e da Eletrobras. A Lava Jato revelou um esquema de propina bilionário entre os diretores da Petrobras, políticos e donos de empreiteiras na construção de várias grandes obras da petrolífera. Uma das subsidiárias da Eletrobras, a Eletronuclear, chegou a ter um ex-presidente, Othon Luiz Pinheiro, preso e condenado por corrupção.

ELETROBRAS

Além da mudança de gestão, especialistas apontam que um dos fatores que contribuíram para aumentar o valor de mercado da Eletrobras foi o anúncio pelo governo federal de que iria privatizar a estatal com a venda de uma parte das suas ações, o que ocorreu em meados do ano passado. “Desde que assumi, implementamos uma série de medidas para resgatar a credibilidade da empresa. Conseguimos arquivar os relatórios 20-F de 2014 e 2015 na SEC – equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) dos Estados Unidos –, adotamos diversas medidas de redução de custos, como o plano de aposentadoria extraordinária, com adesão de 2.108 empregados em todas as empresas e uma economia anual de R$ 877 milhões”, afirma o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior.

Os relatórios citados funcionam como uma prestação de contas que as empresas listadas nas bolsas norte-americanas devem apresentar sob a pena de terem que pagar multas ou até serem liquidadas.
Wilson argumenta que a elaboração de um plano de venda da participação da Eletrobras em 70 Sociedades de Propósito Específicos (SPEs) e de privatização das seis distribuidoras que fazem parte da Eletrobras (ver matéria na página seguinte) vão permitir que a empresa apresente resultados melhores.

“A adoção de um canal de denúncias centralizado e independente, entre outras mudanças, permitiram o aumento da confiança na empresa, impactando diretamente nas ações”, acrescenta.

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