A rejeição do habeas corpus e a possível prisão do ex-presidente Lula (PT) altera a corrida pela presidência da República e interfere no cenário das eleições em Pernambuco, onde o apoio do petista tem forte apelo no eleitorado. No plano nacional, a decisão do STF deve tirar Lula da disputa presidencial, implicando um revés no projeto do PT, que via o ex-presidente liderar as pesquisas de intenção de voto. No Estado, afeta o plano do governador Paulo Câmara (PSB) de firmar uma aliança com o PT para enfrentar a oposição.
“A provável prisão dificulta ainda mais a estratégia da esquerda de colocar alguém no segundo turno. A candidatura dele vai sumir. E vai dificultar muito a estratégia do Lula de transferir voto para o seu candidato, que provavelmente será o (ex-prefeito de São Paulo) Fernando Haddad”, afirma o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC do Rio de Janeiro.
As últimas pesquisas mostram que, sem Lula, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) lidera a disputa presidencial. Em sua maioria, porém, os votos de Lula migram para o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e para a ex-senadora Marina Silva (Rede). Os levantamentos mostram uma dificuldade do ex-presidente em transferir votos para um substituto do PT. O cenário petista fica ainda mais difícil porque, se for preso, Lula não poderá mais circular pelo País ajudando na campanha da sigla.
“O candidato à presidência dao PT pode não conseguir ter o bônus eleitoral da transferência dos votos. Mas isso dá um discurso importante para outras candidaturas do partido a governador, senadores e deputados federais. No Nordeste, pode haver uma capitalização por parte dos candidatos do PT da prisão do ex-presidente dada a popularidade que ele tem na região”, projeta Marcos Augusto Queiroz, analista político da Akro Advice.
Em Pernambuco, aliados do governador Paulo Câmara evitaram antecipar o impacto de uma prisão de Lula nos planos eleitorais do PSB e ressaltavam que esse cenário ainda precisará ser melhor analisado. Os socialistas esperavam contar com o forte apoio de Lula no interior para consolidar a campanha pela reeleição do governador. Até o momento, porém, o PT mantém pré-candidaturas ao governo como a da vereadora do Recife Marília Arraes. O nome de Marília favorece o plano da oposição de levar a disputa para o segundo turno.
“Acho que não vai haver uma tendência de unificar a esqureda aqui. Mas isso pode servir como mote para o PT sedimentar essa aliança. É preciso saber se o PSB, dada a influência e o prestígio que Lula tem em Pernambuco, vai mudar de estratégia. Tudo indica que a oposição vai vir com muita força nessa próxima eleição”, pondera o cientista político Ernani Carvalho, professor da UFPE, que ainda vê chances da aliança ocorrer.
Para Ricardo Ismael, Paulo Câmara se precipitou ao buscar o apoio de Lula antes de uma definição no cenário eleitoral, inclusive da candidatura do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa pelo próprio PSB. “Se for preso, Lula não vai estar no palanque dele. Ou o Lula vai gravar um vídeo da prisão para a campanha de Paulo Câmara? O governador queria pegar o voto de Lula, que entraria no palanque e garantiria a eleição. Mas ela continua em aberta”, argumenta.