O Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, no último dia 5 de abril, foi lembrado pelas parlamentares da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) na sessão plenária nesta segunda-feira (8). A data foi estabelecida por lei pela Alepe em 2017, em alusão ao assassinato da fisioterapeuta Mirella Sena de Araújo, morta a golpes de faca pelo vizinho dentro do seu apartamento no dia 5 de abril daquele ano. As deputadas também lamentaram a morte de Joyce da Silva Santana, de 23 anos, morta a tiros pelo namorado na madrugada desse domingo (7) em São José da Coroa Grande, na Zona da Mata Sul do Estado. O feminicídio é caracterizado como o assassinato de uma mulher por motivação de gênero.
"Ela estava em um bar com ele bebendo. Eles brigaram, ele foi para casa, pegou uma arma de fogo que ele não tinha autorização de usar, mas ele pegou. Chegou lá na frente de todo mundo, como eles sempre fazem, por quê? O assassino de mulher não quer só matar, ele quer matar com requintes de crueldade na frente de todo mundo, de preferência na frente dos pais, na frente dos filhos, porque ele mostra que ali é o dono dela, ele quer destruir ela. E ele fez assim lá em São José da Coroa Grande, ele matou a moça na frente de todo mundo com tiros na cabeça", disparou a presidente da Comissão em Defesa dos Direitos da Mulher, deputada Gleide Ângelo (PSB). Antes de ser eleita deputada, ela comandava o Departamento de Polícia da Mulher.
A vice-presidente da comissão, deputada Roberta Arraes (PP) disse que gostaria que não fosse necessário falar sobre esse tema na tribuna da Casa. "Prefiririamos estar falando de vida e esperança para as mulheres. É comum iniciarmos o dia tomando o conhecimento pela imprensa de mais um femicídio, como o ocorrido no último sábado. Joyce da Silva Santana infelizmente agora faz parte dessa estatística. Precisamos reafirmar nosso compromisso no fortalecimento da rede de proteção para as mulheres para que busquemos a ampliação e o aperfeiçoamento de novos dispositivos na prevenção e proteção da violência contra a mulher", afirmou Roberta.
Na tribuna da Alepe, ela defendeu o desenvolvimento de políticas públicas para garantir a independência financeira e emocional da mulher para evitar a violência. "Quando eu dou entrada em um projeto de lei dizendo que 5% dos imóveis dos conjuntos habitacionais de Pernambuco devem ser destinados para essas mulheres, eu não quero dizer que ela tem privilégio, eu quero dizer que se a gente não fizer isso elas vão continuar apanhando e morrendo porque elas não tem para onde ir com os filhos. Não é porque a gente quer uma classe privilegiada, porque mulher que sofre violência não é privilégio, é crime e é covardia. A gente tem que enxergar isso. Eu não posso ter uma Assembleia Legislativa que pense que isso é privilégio", disse Gleide, como um recado para os demais deputados.
A vice-presidente da Alepe, deputada Simone Santana (PSB) é a autora do projeto de lei que instituiu o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. "Esse dia a gente concebeu para exatamente dar visibilidade a esse crime (feminicídio), que no início da legislatura passada nem existia. Na verdade, ele foi criado por lei em março de 2015 e a partir daí foi que fomos nos familiarizando com esse termo feminicídio e que as pessoas começaram a entender um pouco o quão primitivo, o quão cruel é esse assassinato e também para marcar principalmente a luta pelo fim deste crime", afirmou Simone.
"O último dia 5 serve para lembrar que essa casa precisa ganhar força, que a gente não pode deixar que tantas e tantas mortes sejam apenas números de uma estatística cruel e uma realidade cada vez mais dura para as mulheres", afirmou a deputada Fabíola Cabral (PP), que citou números relacionados a feminicídios no Brasil e no mundo, como o fato cerca de 33% dos assassinatos de Pernambuco registrados em Pernambuco em 2018 serem feminicídio. dez assassinatos de mulheres em Pernambuco em 2018 foram motivados por questões de gênero. Pernambuco ocupa o 7º lugar entre os estados com o maior número de assassinatos de mulheres e 4º lugar em casos de feminicídio em 2018.
"É muito importante esse passo que a gente dá aqui na Alepe, porque todo dia está morrendo uma de nós. Como eu falei da última vez e vou falar de novo: Basta nós querermos viver. O movimento feminista vem trazendo nas nossas bases essa questão do feminicídio, essa questão da violência, porque tudo começa na agressão verbal. Por mais que a sociedade ainda ache que achar uma mulher feia, falar que ela fala mal, isso já é uma agressão e isso se reverbera para um possível tapa até acontecer uma agressão e uma agressão para acontecer o feminicídio", disse a deputada Jô Cavalcanti, representante do mandato coletivo Juntas (PSOL).
Simone Santana pediu que o plenário desse um minuto de silêncio pelo assassinato de Joyce da Silva Santana. Ao final dos discursos das deputadas, elas empunharam um cartaz com os dizeres "Basta de feminicídio. Queremos viver".