O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, determinou que a Polícia Federal analise a solicitação de proteção do presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Antônio Campos (sem partido), irmão do ex-governador Eduardo Campos e pivô da briga política da família Campos que envolve o seu sobrinho, João Campos (PSB), e sua mãe, a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Arraes.
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Em ofício enviado ao presidente da Fundaj, Moro informou da determinação feita à Polícia Federal, destacando que a análise será feita com “a urgência que o caso requer”. “Determinei à Polícia Federal que inicie as tratativas com vistas à análise de atendimento de vossa solicitação e realize eventual análise de risco com a urgência que o caso requer, nos termos do Despacho do Ministro nº 199/2020 (10981163)”, consta trecho do documento.
No início desta semana, Antônio Campos alegou que está sofrendo ameaças após ter testemunhado em um caso sigiloso. Segundo o advogado dele, Weryd Simões, Campos "tem recebido essas ameaças desde antes da última sexta-feira (7), quando intensificaram. A investigação é completamente sigilosa. Ele foi ouvido na condição de testemunha, mas sob sigilo absoluto", disse.
No início da semana, quando questionado sobre do que se tratava a ameaça, o advogado de Antônio Campos apenas falou que "todo o procedimento investigativo teve como vinculo o PSB de Pernambuco. Antônio trouxe informações relevantes e já citou nome de pessoas".
Em entrevista recente à ÉPOCA, Antônio Campos afirmou que havia “preponderância excessiva da Odebrecht em Pernambuco”. O irmão de Eduardo Campos disse ainda ter procurado as “autoridades competentes”, mas não confirmou se foi ao Ministério Público Federal (MPF) ou a Polícia Federal. Ele pretendia, segundo a revista, contar o que sabe sobre a cunhada, Renata Campos, e integrantes do PSB.
Ele alegou que não pode dar mais detalhes para “não invalidar e frustrar atos”, mas antecipou que o que houve na Paraíba com o PSB onde o ex-governador Ricardo Coutinho foi preso no fim do ano passado, na Operação Calvário, é pequeno diante do que poderá ocorrer em Pernambuco se as investigações sobre seus relatos forem levadas adiante.
Weryd explicou que após a intensificação das ameaças, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) foi comunicado. Além disso, a Polícia Federal de Pernambuco já foi informada e agora o advogado pede proteção ao Ministro da Justiça, Sergio Moro.
A partir de agora, a Corregedoria irá analisar a denúncia feita por Antônio Campos e, a depender do resultado, a denúncia pode virar uma investigação, em que um delegado será designado para o caso.
Em razão de ameaças que venho sofrendo ultimamente, de diversas formas, objeto de relatório circunstanciado no requerimento que estarei fazendo, que já aconteceram no passado e retornam após matéria no Jornal Estadão e na Revista Época, acentuadas com a notícia que prestei depoimento convocado como testemunha de processo investigativo, para preservar a minha integridade estou tomando as seguintes providências:
1. Em razão de ser autoridade federal, estando na presidência de Fundação federal e arrolado como testemunha de importante investigação do Ministério Público Federal, estarei protocolando, na data de hoje, requerimento perante o Ministro da Justiça Sérgio Moro comunicando os fatos de forma circunstanciada e pedindo as garantias de vida e as prerrogativas de testemunha juramentada não ser intimidada, dando conhecimento dos fatos, inclusive pedindo para ele comunicar ao Procurador Geral da República.
2. Estarei comunicando tal requerimento ao Ministro, ao Ministério Público Federal-Procuradoria da República de Pernambuco e a Polícia Federal de Pernambuco de tal requerimento para as providências que entenderem cabíveis, às 15h30, para ser instruído com tal requerimento.
Recife, 11 de fevereiro de 2020
Antônio Campos
Por meio de nota, também no início da semana, o PSB refutou "as insinuações do advogado Weryd Simões de que as supostas ameaças sofridas por seu cliente teriam alguma relação com membros do partido". Ainda de acordo com a nota, "relacionar a prática de ameaças ao PSB é desconhecer a história do partido".
Antônio Campos ou Tonca, como é conhecido, voltou ao centro do noticiário político após ser criticado pelo próprio sobrinho, João Campos (PSB), que numa sabatina na Câmara dos Deputados no dia 11 de dezembro com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que o tio era "um sujeito muito pior" do que o ministro. A fala aconteceu após o ministro usar o cargo de Campos como exemplo de que o governo Jair Bolsonaro possui bons quadros.
O deputado foi duramente criticado pela avó, a ministra Ana Arraes, em entrevista ao Blog de Jamildo na Rádio Jornal em janeiro deste ano. "Ele foi desrespeitoso com um tio que é uma pessoa decente, trabalhadora, competente, educada. Como eu eduquei o pai dele (João), eu eduquei o irmão, e os meus dois filhos foram bem educados, os criei com os meus garfos e ensinei as coisas que eles foram desenvolvendo por si próprios. Por isso eu não admito que um neto venha criticar um tio da forma como ele fez. Na minha família isso não existe”, disse a ministra do TCU.
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Após a entrevista de Ana Arraes, lideranças do PSB evitaram se manifestar sobre o assunto. Mas fontes ouvidas pelo JC na época apontaram que o racha no ninho socialista parece ser inevitável. A ministra - que se desfiliou oficialmente do PSB no dia 7 de outubro de 2011, segundo consta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - não escondeu o seu desejo de pleitear um cargo eletivo e entrar na disputa pelo executivo estadual. “Eu vou me aposentar daqui a dois anos e meio e, se eu estiver bem, como estou agora, pois já sou uma idosa, eu pretendo continuar na luta. Na luta pelo povo pobre de Pernambuco, pelas crianças que precisam de creches, umas das minhas batalhas na Câmara”, afirmou.
Um socialista, em reserva, afirmou categoricamente que, se a filha de Miguel Arraes for candidata ao governo do Estado em 2022, sairá vencedora. “O legado dela e do seu pai, no interior do Estado, continua sendo muito forte. As lideranças aqui não pensariam duas vezes em seguir com ela. Geraldo Julio (prefeito do Recife em último ano de mandato e cotado como candidato a governador pela legenda) é um pupilo, mas teria que andar dois anos pelo Estado para ser conhecido”, disparou.
E a ministra já demonstrou não estar preocupada com os possíveis opositores ao seu projeto. “Eu quero saber quem é mais antigo e quem tem o que mostrar”, provocou, na entrevista de terça. Por outro lado, há quem não acredite que essa disposição irá ganhar corpo. “Não acredito que ela vá abrir mão do cargo antes destes dois anos e meio para se aposentar. Mas, se colocando na disputa majoritária, ela teria apoio do partido, e Geraldo Julio esperaria o seu momento”, declarou um parlamentar, que não quis ser identificado.