Livro do Êxodo traz registros sobre a síndrome de burnout

Na obra, Moisés apresenta quadro de profunda desilusão e desmotivação em liderar o povo hebreu
Cinthya Leite
Publicado em 25/03/2013 às 13:16
Na obra, Moisés apresenta quadro de profunda desilusão e desmotivação em liderar o povo hebreu Foto: Divulgação


Os sintomas da síndrome de burnout não vêm de agora. O psicólogo William Cesar Castilho Pereira ressalta que a única novidade é a maior divulgação do problema. Ele cita que, no livro do Êxodo, Moisés já apresentava um quadro de profunda desilusão e desmotivação no exercício da liderança do povo hebreu. “O tipo de governança escolhido por ele foi o de centralizar toda a decisão sobre os seus ombros. Além disso, Moisés sentia-se frustrado pela impossibilidade de realizar todos os desejos da população”, comenta William. Chegou o momento, conta em seu livro, em que Moisés procurou ajuda terapêutica com o sogro Jetro. “O diálogo entre os dois produziu em Moisés novas estratégias de enfrentamento.”

Procurar ajuda é o primeiro passo para os sacerdotes afastarem a síndrome de burnout. “É fundamental os padres terem amigos e pessoas com quem possam compartilhar verdadeiramente as angústias, as conquistas e os temores. E o básico é que eles peçam apoio quando perceberem que precisam. Podem recorrer a um psicólogo, a parentes e a colegas”, afirma o psicoterapeuta Ênio Brito Pinto, autor do livro Os padres em psicoterapia – esclarecendo singularidades (Editora Ideias & Letras, 184 páginas, R$ 23,50).

Na publicação, ele traz uma análise sobre singularidades do atendimento a religiosos católicos. “Eles precisam ter a coragem de se tratar. Quem chega ao esgotamento provocado pela síndrome de burnout precisa, ao menos no início, de uma ajuda interprofissional, como também da diocese ou da congregação e da família. Os religiosos também devem ter o apoio dos fiéis com quem têm mais contato”, frisa Ênio, que participa de grupo de pesquisa no Núcleo de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

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Ele ainda chama atenção para o fato de os padres serem bastante exigidos. “Espera-se deles mais do que se deveria esperar; são tratados quase como sobre-humanos. O problema maior disso é que alguns sacerdotes também se veem dessa maneira e tentam viver como se não tivessem limites, dúvidas e angústias”, enfatiza Ênio. Ele diz que, nesse ciclo vicioso, há religiosos que acabam mecanizados, trabalham em excesso e praticamente nem rezam mais. “Chega uma hora em que adoecem e têm a oportunidade de repensar esse jeito de ser, reavaliar a vida e os valores que a conduzem, chegando a mudanças existenciais importantes e, dessa maneira, humanizando-se mais”, complementa o psicoterapeuta.

Para aliviar um possível desgaste, os especialistas recomendam que os presbíteros procurem auxílio psicoterapêutico e, em alguns casos, tratamentos medicamentosos. “Mas só isso não resolve o problema. É preciso fazer uma análise institucional. Ou seja, recomenda-se também observar cuidadosamente como está toda a diocese e a paróquia para que o sofrimento dos padres seja realmente diminuído”, finaliza William.

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