Os nordestinos que pensavam estar seguros ao sol até as 10h, agora, têm que repensar os seus hábitos ao ar livre. Desde novembro, está valendo o novo horário oficializado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Através do primeiro documento de recomendações sobre proteção solar no Brasil, que levou o nome de Consenso Brasileiro de Fotoproteção, especialistas formalizaram a recomendação de que se deve evitar exposição solar das 9h às 16h na região Nordeste. Aconselham, ainda, o uso diário de filtro FPS 30, no mínimo.
“Estamos no processo de uma mudança de paradigma. Antes, nossos estudos se baseavam em resultados observados em países da Europa e nos Estados Unidos”, critica o especialista em meteorologia física e coordenador do mestrado em meio ambiente e recursos hídricos da Universidade de Itajubá (MG), Marcelo Corrêa.
Ele é um dos que avaliaram o clima nordestino e chegaram à conclusão dos índices extremos de radiação ultravioleta (UV) a região. “Do Maranhão à Bahia, os níveis de UV são altos praticamente durante todos os dias do ano. Vale lembrar que a intensidade UV também ocorre em dias nublados”, explica o estudioso paulistano.
Marcelo esclarece, ainda, que a ação dos raios UVA/UVB está dissociada de temperaturas muito quentes. “A neve, por exemplo, reflete os raios solares, obrigando o uso de protetor solar nas atividades no gelo”, explica.
O mesmo conceito vale para os dias nublados. Engana-se quem pensa que as nuvens barram os efeitos nocivos da radiação solar. Elas até facilitam. Através de moléculas de água, se dá a difusão dos raios UVA/UVB.
“É preciso se defender sempre, não importa se faz sol ou se está nublado. A proteção da pele tem que ser diária, pois, a longo prazo, os danos provocados pelo sol podem causar câncer”, catequiza o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional Pernambuco (SBD/PE), Sérgio Palma. Ele lembra que a expectativa de vida está aumentando e que, tomando as devidas precauções, é possível chegar aos 100 anos com uma pele bonita e saudável.
Igor Aguaçã, 10 anos, está entre aqueles com grandes chances de chegar lá com a epiderme bem tratada. Desde muito cedo, ele está acostumado a pegar onda com a mãe, a jornalista e surfista de carteirinha Raphaela de Paula Pimentel, 37. “Sempre tem aquele estresse de Igor não querer passar o protetor antes de cair na água. Quando chega em Maracaípe, ele quer logo correr para o mar. Essa opção de spray para o corpo e bastão para o rosto ajuda muito nessa logística de protegê-lo do sol”, confessa Raphaela.
A diversidade de veículos de filtros solares disponíveis no mercado é o grande aliado de todos. Graças a eles, ninguém tem mais a desculpa de dizer que não gosta de passar protetor no corpo diariamente ou nos dias de lazer ao ar livre.
“Os diferentes veículos – loção, gel, spray, bastão e creme, assim são chamados – facilitam na hora de a pessoa escolher qual o mais indicado para a ocasião e com qual se sente mais confortável”, explica Sérgio Palma.
Para não deixar dúvidas quanto ao procedimento correto na hora de usar o protetor, o especialista ensina que se deve passar uma camada uniforme e generosa em toda a pele exposta a cada duas horas. “É importante que seja, pelo menos, 20 minutos antes de sair de casa.”
É o que faz a estudante de gestão ambiental Dandara Oliveira de Albuquerque, 20. Todos os dias, ela espalha no rosto filtro solar FPS 50. Sabe que há a caminhada até o ponto de ônibus e a espera pelo transporte pode ser longa. “Como minhas aulas terminam ao meio-dia, e ando de ônibus, achei melhor ouvir os conselhos de minha mãe e cuidar da minha pele”, diz a jovem que não dispensa proteção, também, quando vai à praia com os amigos. “No corpo, uso fator 30. Se não fizer isso, despelo.”
A cultura de cuidar da pele contra os malefícios da radiação solar é relativamente nova na vida moderna. Somente há 30 anos, por exemplo, a Johnson&Johnson lançava a loção Sundown no Brasil. Hoje, não faltam opções e marcas também reconhecidas no segmento, que está sempre buscando inovações para melhor atender às necessidades típicas de um país tropical.
Sorte das gerações mais recentes, que são educadas para não tomarem sol desprotegidas enquanto se divertem com os amigos à beira-mar, na piscina ou quando praticam esportes ao ar livre durante o dia.
Marília Santana, 19, adora praia. A família dela possui casa em Itamaracá, para onde vai nos fins de semana. Desde a infância, a estudante de ciências contábeis aprendeu que com radiação solar não se brinca. Praieira que só ela, sabe que é preciso se cuidar para se manter jovem e saudável. “Como tenho a pele muito branquinha, se não passar protetor solar fator 70 no rosto espalhar fator 50 no corpo, fico vermelha, ardida,” comenta, acrescentando que as amigas também fazem o mesmo. Diariamente, Marília também não abre mão de resguardar a face da radiação UV.
A favor da universitária e do sem-número de apaixonados por atividades de lazer e esportivas à luz do sol, há outros artifícios que eles podem ter como aliados. São camisas de mangas longas e bonés com abas no entorno, que já vêm com dióxido de titânio (TiO2). “Vestuário revestido com dióxido de titânio reduz o contato de raios UVA/UVB na derme. O ideal é escolher roupas com Fator de Proteção Ultravioleta 50 (FPU) e ficar atento à durabilidade. Com as várias lavagens, há um desgaste do tecido e, consequentemente, da substância que acompanha o tecido”, afirma Sérgio Palma.
Para o dermatologista, não reza na cartilha dos médicos afastar as pessoas da vida ao ar livre. Com os devidos cuidados, diz ele, dá até para ser feliz. É só preparar o corpo e aproveitar. O espírito agradece.