Horta vertical e gastronomia saudável para educar crianças

Comunidade dos Pequenos Profetas lança projeto para escolas
Do JC Online
Publicado em 08/03/2015 às 10:32
Comunidade dos Pequenos Profetas lança projeto para escolas Foto: Bobby Fabisak/ JC Imagem


O rapaz de classe média que na década de 1980 apanhava sobras de verduras das feiras livres para matar a fome de mendigos hoje usa a gastronomia para evitar que crianças cheguem às ruas. Demetrius Demetrio, fundador de uma das maiores organizações governamentais de Pernambuco, a Comunidade dos Pequenos Profetas, lançou há dois dias sua nova invenção, entre as dezenas de projetos de cidadania que desenvolveu nos últimos 30 anos. O Passo Mais Saudável, como é batizado, ensina a fazer hortas verticais, com uso de garrafa PET, e a preparar receitas atraentes com frutas e verduras. É praticado na ONG e está chegando a casas e escolas do Coque, na Joana Bezerra, área Central do Recife.

“Queremos levar a proposta a mais escolas públicas. Para isso precisamos de voluntários e do apoio governamental”, diz o experiente ativista que buscou formação em gastronomia para aliviar as tensões da prática social e acabou criando mais uma forma de trabalhar com seu público. “A comida é energia. Quando bem feita, traz encantamento. Leva as crianças e os adultos a conhecerem novos sabores, novos sentidos. É mais um passo ao longo de muitas alegrias e dores”, justifica.

A alimentação foi o primeiro passo de Demetrius quando iniciou o trabalho na rua. “Nada é por acaso. No início, eu era a vergonha da minha família, formada por militares. Catava verdura de chão de feira, cozinhava para 120 pessoas tentando matar a fome delas”. Foi nessa época que ele teve um apoiador de primeira: o então arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. O religioso cotado para o Prêmio Nobel da Paz destacava-se pela ação em favor dos excluídos. Nesse tempo, arrumou um espaço, no entorno do Mercado de São José, para que o jovem Demetrius alimentasse famintos. 

 

A Comunidade dos Pequenos Profetas foi crescendo, mas totalmente laica. Hoje ocupa um galpão na Avenida Sul, em São José. Acolher, ensinar, ouvir e defender direitos são os princípios. A gastronomia se junta às aulas de arte, capoeira, teatro, música, jogos e uma infinidade de práticas que alcançam quase 500 novos alunos todos os anos, alimentado três vezes por dia. São crianças a partir de 7 anos e jovens com até 21, dos bairros de São José e Joana Bezerra, rodeados pelas vulnerabilidades. O projeto de gastronomia, realizado com apoio de uma nutricionista, de outros chefs e dos educadores da casa, tem incentivo da Petrobras e mais parceiros. Está chegando às Escolas Municipais do Coque e Costa Porto, na localidade.

“Estou aprendendo a gostar desses coentros estranhos”, diz Tiago Dias, 21. João Eufrosino, 14, experimenta mais que o sabor. Faz questão de aprender as receitas novas, coloridas. “Isso é comida de rico?”, de vez em quando pergunta Mércia Lima, mãe de dois garotos e veterana na ONG. “É comida para todos”, ensina o mestre, que busca folhas, raízes e sementes para nutrir o corpo, estimulando a mente a encontrar novos caminhos. 

“Quase ninguém gostava de verdura. Agora eles comem lasanha de berinjela e arroz colorido com pimentões”, testemunha a cozinheira Rosângela Silva, que acrescenta uma pitada de simpatia.

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