O charme da Maria Fumaça na linha férrea de Minas Gerais

Máquina de ferro movida a lenha, que parte da Estação Rio Acima, pertenceu à Usina Maravilha de Goiana (PE)
Cleide Alves
Publicado em 30/08/2015 às 8:10
Máquina de ferro movida a lenha, que parte da Estação Rio Acima, pertenceu à Usina Maravilha de Goiana (PE) Foto: Foto: Cleide Alves/Especial para o JC


Depois de passear por linhas férreas no Rio e no Espírito Santo, encerraremos a aventura numa ferrovia de Minas Gerais, na cidade de Rio Acima, a 39 quilômetros de Belo Horizonte. O trajeto é pequeno – sete quilômetros contando ida e volta – mas o trem é lindinho, uma autêntica Maria Fumaça de fabricação alemã movida a lenha.

O apito, o barulhinho do sino na estação, o condutor furando bilhetes, a fumaça em volta da máquina e o sacolejo nos trilhos resgatam o charme das viagens de antigamente. A Maria Fumaça Elisabeth sai da Estação Rio Acima, segue pelos bairros Matadouro e Nossa Senhora do Carmo, até a região de Labareda, de onde retorna ao ponto de partida. 

A locomotiva se desloca a 12 quilômetros por hora, puxando três vagões de passageiros, e faz o percurso em 60 minutos, atravessando uma ponte ferroviária de 28 metros de extensão e sete passagens em nível, aqueles trechos onde os trilhos se encontram com os veículos urbanos. O apito inconfundível avisa que o trem se aproxima, antes de cada cruzamento. 

Desde a inauguração do Trem das Cachoeiras – o nome mudou semana em agosto de 2015 para Maria Fumaça Rio Acima – em 30 de junho de 2012, até agora, 35 mil pessoas (quase quatro vezes a população da cidade, de apenas 9.095 habitantes) fizeram o passeio, disponíveis aos sábados, domingos e feriados, diz o coordenador do projeto, Flávio Iglesias. O preço varia de R$ 22 a R$ 30.

“Muito interessante, estou sentindo o cheiro da natureza, é uma sensação diferente”, afirma a estudante de gestão de turismo de Belo Horizonte Paloma Fenner, em sua primeira viagem na Maria Fumaça Rio Acima. “Por isso estou do lado de fora do vagão, para sentir o aroma”, diz, no corredor de ligação entre os carros de passageiros.

Fundada em 1714, no século 18, Rio Acima tem mais de 80 cachoeiras formadas por rios, riachos e córregos. Daí a escolha do nome do projeto, eleito num concurso com a participação de estudantes das escolas da cidade. Porém, nenhuma queda d'água é avistada no percurso da Maria Fumaça. Com a nova marca, evita-se expectativas frustradas.

A cidade vive da mineração, comércio, turismo e agricultura familiar. Em Rio Acima, o visitante pode se deleitar com as cachoeiras, fazer trilhas de bicicleta ou explorar o Parque do Gandarela, um mirante ainda em processo de organização para o turismo, numa região montanhosa com grutas e cachoeiras, avisa Flávio Iglesias. A entrada é grátis.

Detalhe curioso: a Maria Fumaça do trem mineiro, fabricada em Berlim, no ano de 1924, pertencia à Usina Maravilha do município de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. “A usina comprou a máquina em 1940, para puxar 30 vagões carregados de cana-de-açúcar”, diz Flávio Iglesias.

No ano 2000, sem uso e castigada pelo tempo, a Maria Fumaça Elisabeth foi arrematada num leilão por um restaurador de locomotivas de Pindamonhangaba (SP). A Prefeitura de Rio Acima, parceira do projeto, comprou a máquina nova em folha, em 2012. De volta aos trilhos, a história continua. Ô trem bão, sô!

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