Depois de passear por linhas férreas no Rio e no Espírito Santo, encerraremos a aventura numa ferrovia de Minas Gerais, na cidade de Rio Acima, a 39 quilômetros de Belo Horizonte. O trajeto é pequeno – sete quilômetros contando ida e volta – mas o trem é lindinho, uma autêntica Maria Fumaça de fabricação alemã movida a lenha.
O apito, o barulhinho do sino na estação, o condutor furando bilhetes, a fumaça em volta da máquina e o sacolejo nos trilhos resgatam o charme das viagens de antigamente. A Maria Fumaça Elisabeth sai da Estação Rio Acima, segue pelos bairros Matadouro e Nossa Senhora do Carmo, até a região de Labareda, de onde retorna ao ponto de partida.
A locomotiva se desloca a 12 quilômetros por hora, puxando três vagões de passageiros, e faz o percurso em 60 minutos, atravessando uma ponte ferroviária de 28 metros de extensão e sete passagens em nível, aqueles trechos onde os trilhos se encontram com os veículos urbanos. O apito inconfundível avisa que o trem se aproxima, antes de cada cruzamento.
Desde a inauguração do Trem das Cachoeiras – o nome mudou semana em agosto de 2015 para Maria Fumaça Rio Acima – em 30 de junho de 2012, até agora, 35 mil pessoas (quase quatro vezes a população da cidade, de apenas 9.095 habitantes) fizeram o passeio, disponíveis aos sábados, domingos e feriados, diz o coordenador do projeto, Flávio Iglesias. O preço varia de R$ 22 a R$ 30.
“Muito interessante, estou sentindo o cheiro da natureza, é uma sensação diferente”, afirma a estudante de gestão de turismo de Belo Horizonte Paloma Fenner, em sua primeira viagem na Maria Fumaça Rio Acima. “Por isso estou do lado de fora do vagão, para sentir o aroma”, diz, no corredor de ligação entre os carros de passageiros.
Fundada em 1714, no século 18, Rio Acima tem mais de 80 cachoeiras formadas por rios, riachos e córregos. Daí a escolha do nome do projeto, eleito num concurso com a participação de estudantes das escolas da cidade. Porém, nenhuma queda d'água é avistada no percurso da Maria Fumaça. Com a nova marca, evita-se expectativas frustradas.
A cidade vive da mineração, comércio, turismo e agricultura familiar. Em Rio Acima, o visitante pode se deleitar com as cachoeiras, fazer trilhas de bicicleta ou explorar o Parque do Gandarela, um mirante ainda em processo de organização para o turismo, numa região montanhosa com grutas e cachoeiras, avisa Flávio Iglesias. A entrada é grátis.
Detalhe curioso: a Maria Fumaça do trem mineiro, fabricada em Berlim, no ano de 1924, pertencia à Usina Maravilha do município de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. “A usina comprou a máquina em 1940, para puxar 30 vagões carregados de cana-de-açúcar”, diz Flávio Iglesias.
No ano 2000, sem uso e castigada pelo tempo, a Maria Fumaça Elisabeth foi arrematada num leilão por um restaurador de locomotivas de Pindamonhangaba (SP). A Prefeitura de Rio Acima, parceira do projeto, comprou a máquina nova em folha, em 2012. De volta aos trilhos, a história continua. Ô trem bão, sô!