O centrão como força política no Brasil não é nenhuma novidade. A importância do grupo para o equilíbrio político do Brasil pode ser atestada por ex-presidentes. Quem tiver dúvidas pode perguntar a Lula (PT), FHC (PSDB), Dilma (PT) e a todos os outros.
Também não tem novidade com o centrão comandando a Câmara. Nos últimos 50 anos, pelo menos, só por oito anos a Casa não esteve sob administração de um partido de centro.
Passada, então, a estupefação coletiva incoerente, difícil não comparar a situação atual do presidente Bolsonaro com a de Lula, em 2005. Sim, porque a trajetória do petista é muito parecida com a de Bolsonaro.
Lula achava que podia viver sem o centrão, até quase afundar com o Mensalão em 2005 e ter que chamar o PMDB de "salva-vidas". Bolsonaro achou que podia viver sem o centrão até correr o risco de um impeachment. E gritou pelo "salva-vidas".
Não podem, não poderão viver sem ele. Se algo foi aprendido com Collor e Dilma é que a situação deles foi se esfacelando, quanto mais se afastavam dos partidos de centro.
Bolsonaro, ao contrário de se afastar, embarcou na campanha de Arthur Lira (PP). O presidente pode ser inapto para a presidência da República, como sugerem seus atos frequentes, mas não é bobo e entende as marés políticas.
Ele, por exemplo, acertou sua ida ao Congresso para levar mensagem pelo início do ano legislativo. É uma aproximação notória de quem passou os últimos anos tentando jogar a culpa de tudo o que dava errado nos ex-colegas de Câmara.
A aproximação de Bolsonaro com o Legislativo pode ser muito boa para o Brasil, mesmo que a oposição não goste (e talvez não goste por isso).
O que precisa ser observado, agora, é quanto o país vai ganhar com a trégua.
Bolsonaro ganha estabilidade, os parlamentares ganham verbas e cargos. O Brasil precisa ganhar também. As reformas sairão? Em que medida e quão rápidas elas serão aprovadas? Haverá pacote de estimulo para a economia no pós-covid?
O "toma lá, dá cá" faz parte da democracia, queiram ou não. É um dos defeitos dela, ainda. A questão não é se ele existe. A questão é se os brasileiros que não são presidentes, nem deputados ou senadores, também ganham a sua parte.
Precisam ganhar, porque são os maiores investidores. É simples.