Ciro Gomes (PDT) sentiu o peso da volta de Lula (PT) assim que ela aconteceu. O clima de possível reaproximação evaporou imediatamente. Porque Ciro não aceita ficar fora do holofote. Nem Lula.
Mas, ao sugerir que Lula vá para uma vice (dele próprio, naturalmente), o pedetista deu mostras de que ficou incomodado com a inviabilidade de sua própria candidatura.
A principal consequência para os planos de Ciro é o PSB. Os socialistas, que chegaram a gritar contra o PT nas eleições municipais e conversaram com Luciano Huck para tentar rumar ao centro, agora vão fingir que nunca disseram nada, que o PT nunca foi corrupto e que sempre acreditaram na esquerda.
Ciro contava com o PSB para seu palanque, escanteando o PT e Lula. Estava tudo encaminhado. O PCdoB iria junto, porque depende dos socialistas pra sobreviver. Aí, liberaram Lula.
O ex-governador do Ceará compara Lula com Cristina Kirchner, que foi candidata a vice na Argentina, depois de ter sido presidente. A comparação é imprecisa, por uma inviabilidade de futuro.
Lá, Alberto Fernandes aceitou ser um presidente de fachada para que Kirchner voltasse ao poder. Ele, Ciro, aceitaria isso com Lula? Não. E o ex-presidente brasileiro sabe disso.
A opção para Ciro Gomes seria rumar ao centro e tentar representar esse campo, fugindo da polarização. O problema, mais uma vez remete ao futuro, dessa vez com a imprevisibilidade.
O pedetista é uma das criaturas mais imprevisíveis da política brasileira, chegado em arroubos como poucos. Tudo o que o campo moderado de centro não suporta é imprevisibilidade.
Hoje, a perspectiva de Ciro para 2022 é a pior possível. Talvez, se a pandemia deixar, ele tenha que antecipar a passagem até Paris.