A construção de uma falácia não precisa de muita elaboração. A falsa legitimação de um argumento falacioso é menos complicado ainda, porque acontece quase sem querer.
É como dizer que um "tratamento precoce" é eficaz, sem que qualquer estudo científico sério o acompanhe.
Basta encontrar um paciente que se curou e oferecê-lo como prova. Mesmo que não se saiba ao certo se ele se curou por causa do medicamento ou porque bebeu água e repousou enquanto o corpo reagia.
Tanto faz, o que importa para o mal intencionado, ou para o bem intencionado que não questiona aquilo em que gosta de acreditar, é atestar o que pensa.
Falácias são construídas quando se aponta uma linha reta entre o ponto A e o ponto B, como se a vida fosse uma folha de papel atacada por uma caneta.
Sempre que o caminho é muito fácil, sempre que a relação entre causa e efeito é simples demais, há algo errado. É o mesmo princípio dos golpes de pirâmide, nos quais o maior indício do próprio golpe é o dinheiro fácil.
Fique rico, pergunte-me como.
Está doente, eu tenho o remédio.
Se fosse simples assim, todos estariam ricos e o vírus já tinha sumido do mundo inteiro.
A prefeitura de Chapecó, em Santa Catarina, comemorou leitos de UTI vazios esta semana. O prefeito é defensor do "tratamento precoce" e liberou os médicos a aplicarem os medicamentos.
Bolsonaro, que defende o uso de medicamentos não comprovados, comemorou junto e usou a cidade como exemplo.
Minutos depois, encontraram um vídeo em que o prefeito explicava que conseguiu o resultado, na verdade, fazendo um lockdown de 14 dias.
Antes de fechar tudo, Chapecó sofria com um aumento de 435% nas mortes por covid-19 em relação a 2020.
A realidade é sempre muito mais dura do que parece. A verdade não é simples. E problemas complexos não se resolvem com soluções fáceis.
Mas, o ser humano gosta de se acreditar protegido, confiando em linhas retas.