Governador que lava as mãos, sempre causa sérios problemas para o futuro. Pode-se dizer que isso é uma verdade bíblica.
O caso mais recente teve resultado nas ruas do Recife, quando policiais militares atacaram manifestantes que faziam protesto contra o governo Bolsonaro.
Para explicar, convém voltar algumas horas no tempo, antes de a manifestação acontecer. Não é preciso nem voltar muito, basta ir até a sexta-feira (28), quando o Ministério Público de Pernambuco emitiu uma recomendação:
“Não é permitida, de acordo com os decretos estaduais, neste momento, a realização de manifestação presencial como a agendada para o próximo 29 de maio, diante do atual cenário de recrudescimento da pandemia da Covid-19 no Estado de Pernambuco, o qual adotou, inclusive, medidas mais restritivas comparadas a de alguns estados da Federação”.
O texto é assinado pela promotora de Justiça Helena Capela, usando como base as determinações do Decreto Executivo do Governo de Pernambuco de nº 50.561, de 23 de abril de 2021 e do Decreto nº 50.752, de 24 de maio de 2021.
Repetindo: o decreto que o MPPE utilizou para basear a recomendação é assinado pelo governador.
O que fez o governador e o governo? Nada. Não se pronunciou contrário à aglomeração que se anunciava, não chamou os organizadores para pedir que adiassem o evento, nem mesmo para tentar controlar previamente o fluxo e impor regras, nada.
Talvez pelo mesmo motivo que levou deputados e senadores da esquerda em Pernambuco a ficarem quietinhos, esperando para ver o que ia acontecer: conveniência política. Será?
Afinal, como criticar movimentos ligados ao seu campo ideológico sem se prejudicar politicamente? Muitos dos grupos que organizaram o protesto ou são ou podem vir a ser aliados do PSB.
Os parlamentares pernambucanos, com exceção explícita do deputado estadual João Paulo (PCdoB), passaram a semana fazendo postagens sobre "a força do povo nas ruas", mas evitando chamar para as manifestações.
Havia dois riscos: a aglomeração e o fiasco de público. Se desse pouca gente, não queriam estar ligados ao fracasso. Se desse muita gente, não queriam estar ligados à multidão que pode piorar os números da covid em Pernambuco. Resolveram ficar quietos.
Mas, um governador não pode fazer isso. Porque quando o faz, cria consequências do tamanho de sua responsabilidade, que é grande.