A situação é clássica. Você precisa apertar um parafuso e não tem chave de fenda, acaba apelando para uma faca da cozinha.
O Partido dos Trabalhadores, no Brasil, adoraria ter uma chave de fenda. Nunca teve.
A eleição da Nicarágua, que o PT saudou em texto dentro de seu site, aconteceu com protestos das maiores democracias do mundo e da Organização dos Estados Americanos.
Disse o PT, oficialmente, para "saudar" o resultado da eleição, que o resultado confirma o "apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um país socialmente justo e igualitário".
A "democracia" que o partido de Lula chamou de "exemplo para o mundo" no mesmo texto, ficou marcada por uma eleição em que o ditador, no poder há mais de 20 anos, mandou prender sete de seus opositores.
O ditador, Daniel Ortega, tinha menos de 20% nas pesquisas, mas venceu com 75% dos votos. Quase uma aclamação.
A imprensa por lá também é perseguida. Antes da eleição, 30 jornalistas que não concordavam com o governo foram presos.
Se fosse um governo de direita, talvez fosse um abuso para o PT.
Mas Ortega é de esquerda e se diz popular. Então, "tudo bem".
A impressão que se tem é que, nesses momentos, os petistas se veem despertos em seus instintos mais primitivos.
Como se a democracia brasileira fosse, para eles, um "apesar de", uma imposição burguesa, elitista com a qual eles são obrigados a conviver por força das circunstâncias.
Lula deixa escapar esse instinto, vez por outra, como quando fala em regulação da mídia.
Talvez por nunca ter tido ambiente para fazer o que se faz na Nicarágua, em Cuba ou na China, o PT tenha sido obrigado a apelar para a corrupção.
Ditadura é a principal ferramenta usada por políticos e gestores limitados e incompetentes.
A corrupção deve ter sido a faca que o PT usou para apertar o parafuso, na falta da chave de fenda.